segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Papa que vendeu a tiara

Paulo VI deixa de usar a tiara

- Porque é que o Papa já não usa tiara?

- Porque Paulo VI a vendeu. Foi no dia 13 de Novembro de 1964.

(Em muitos pontos se diz que a vendeu em favor dos pobres ou por uma questão ecuménica. Mas não consegui descobrir quem a comprou.)

O P.e Manuel Antunes comentou o gesto.

Com a clara consciência gradualista, que o habitava, e com a vontade persistente que o impelia, G. B. Montini, uma vez coroado, depõe a tiara, que chega a vender, para, com o seu produto, ir ao encontro de necessidades reais dos homens.

A partir daí, pode ele impor aos cardeais da Santa Igreja Romana, secularmente designados de “príncipes”, maior simplicidade: no séquito, no hábito e no habitat. A partir daí, para omitir outros factos, gestos e palavras, pode ele traçar o admirável testamento de humildade e pobreza, com a disposição de que os seus “funerais sejam muito simples” e que não deseja nem túmulo especial nem monumento algum, “apenas algumas orações pela minha alma (obras de beneficiência e orações)”. A partir daí, pode ele, nesse mesmo testamento, louvar os irmãos por nunca lhe terem pedido nada, evitando o nepotismo de tão funestas consequências no passado da Igreja, pode ele dispor que todos os seus manuscritos pessoais fossem queimados, pode ele instituir legatária universal dos seus bens a Santa Igreja, pode ele pedir que o seu corpo fosse inumado, verdadeiramente inumado, na terra (...). A partir daí, este homem oriundo da classe média e que não possuia experiência pessoal da miséria e da desnudez mas que, como ser intuitivo e sofredor que era, tinha uma aguda percepção das situações-limite da falta de tudo, tantas vezes presenciadas, na Itália, e, sobretudo, fora de Itália, em vastas regiões do Terceiro e Quarto Mundos, a partir daí, Paulo VI devia ter experimentado o contraste, até à dor, entre certos aspectos “pomposos” da Igreja aspectos que sabia não poder suprimir, e a pobreza de tantos homens, cristãos ou não, que ele não podia ajudar. Possuindo, por outro lado, o sentido da beleza e da grandeza das obras de Deus e do génio e trabalho dos homens, Paulo VI exara ainda, no seu testamento, uma expressão onde ele, decerto, não se encontra todo mas onde se encontra em boa parte: “Fecho os olhos sobre esta terra dolorosa, dramática e magnífica...”.

O homem de grande sensibilidade, de grande fé, de grande cultura e de grande simplicidade aspirativa, que era G.B. Montini, não poderia exprimir-se de outra maneira.

Sem comentários:

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