O novo livro de Alberto Manguel recolhe textos sobre a infância de Jesus. Intitula-se “Las aventuras del Niño Jesús”.
O escritor argentino naturalizado canadiano, de 61 anos, compila textos que vão do mais ortodoxo, como os dos evangelhos de Lucas e de Mateus, ao mais heterodoxo, como os dos evangelhos apócrifos e gnósticos. Inclui ainda textos de fontes islâmicas, recriações de anónimos do século XV e autores como Jaboco de Vorágine, os irmãos Grimm, Selma Lagerlöf, Giovanni Papini, Ernest Renan, Oscar Wilde o W.H. Auden, entre outros.
“Acreditemos ou não em Cristo, ninguém pode negar a importância que tem no imaginário universal, por isso, quanto mais conhecermos as histórias que foram construídas à volta desse personagem melhor podemos entender a sua importância e o seu peso”, diz o autor ao diário espanhol El Mundo (aqui).
O Menino Jesus surge nos textos islâmicos como profeta perante o qual a natureza se incline, enquanto a literatura europeia medieval o descreve como um pequeno travesso, às vezes perverso, que escandalizaria algum devoto, já que chega a fulminar outras crianças que não querem brincar com ele.
Será que o autor de “Uma História da Leitura” (Presença) e de “Stevenson sob as Palmeiras” (Asa) inclui no seu último livro o “Poema do Menino Jesus”, de Alberto Caeiro / Fernando Pessoa?
Começa assim:
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
Poema todo aqui.
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