Há dias referiu-se neste blogue Isaiah Berlin (aqui). Hoje, durante uma busca noutras direcções, dei com este texto de João Carlos Espada no jornal I (aqui). Fala de uma conferência anual na Universidade de Oxford, instituída a quando da morte do pensador de origem judaica.
A palestra de 2009, em Maio, foi proferida pelo Rabi Adin Steinsaltz (na imagem), que abordou a “a paganização da cultura ocidental”.
Diz Espada, resumindo as ideias desta conferência profundamente "berliniana", “profundamente pluralista”:
“A visão cristã do mundo perdeu influência. E, no lugar do Deus judaico--cristão, existem agora os deuses pagãos da antiguidade pré-cristã - ainda que possam ter novos nomes, novas imagens e novos templos.
O primeiro desses deuses é Baal, o deus do poder, também por vezes designado por Mammon, o deus do dinheiro. Os seus templos estão nos centros financeiros das grandes cidades e os seus padres são hoje designados por executivos e gestores.
O segundo deus pagão contemporâneo corresponde à antiga deusa da fertilidade e do sexo: Astarte, ou Ishtar, ou Ashtoreth. Os templos desta deusa - que já não é propriamente da fertilidade, mas simplesmente do sexo - encontram-se um pouco por toda a parte na sociedade ocidental.
Finalmente, temos uma musa promovida a deusa: Calliope, deusa da fama, simbolizada hoje na expressão "celebridade". Ser uma celebridade significa "ser um ninguém muito conhecido", isto é, alguém que toda a gente conhece mas ninguém sabe exactamente o que faz ou por que merece ser célebre. Os templos desta deusa estão em todas as casas e chamam-se televisão”.
Li o texto on-line hoje de manhã antes da compra diária do “Público” em papel. Leio na última página do matutino: “Há algum tempo – há quanto tempo, meu Zeus, já nem me lembro – era possível acreditar num Portugal fundamentalmente honesto” (início da crónica de Rui Tavares). Não me interessa o assunto da crónica, a corrupção, que, antes de ser um problema político e jurídico, é um problema moral e está resolvido à partida. Interessa-me a expressão: “Meu Zeus”. Não significa nada a não ser uma provocação. Mas que se usa a provocação - e Rui Tavares não é nem de longe o primeiro a fazê-lo na imprensa escrita - é já um sinal.
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