Richard Zimler diz numa entrevista à Ler (n.º 85, pág. 34):
“Aquilo que me atraía [no estudo de Religião Comparada], sempre, era o misticismo. A ideia, em primeiro lugar, de que existe qualquer coisa para além da nossa realidade – talvez não seja Deus mas é outra dimensão, algo de transcendente. Não faço a mínima ideia do que se trata, mas existe”.
Disse isso e deixou em mim algumas dúvidas. Como pode haver algo de transcendente que não seja Deus ou pelo menos da esfera do divino? Serão anjos? Deus, sobrenatural, transcendente não são a mesma coisa. Mas… poderá haver transcendência sem Deus? Poderá haver outra dimensão para lá da natural se não existir o que, há falta de outra palavra, teremos de nomear como Deus? Falar em deuses parece, evidentemente, irracional. Como poderiam existir vários deuses? A omnipotência é qualidade exclusiva de uma única entidade. Não pode ser dividida (na teologia cristã, esta questão foi imensamente debatida; e só há um deus, sendo três pessoas). Se admitirmos algo transcendente, como não nomear a isso Deus, ainda que não tenha a história do Deus judaico-cristão?
Comungando com o judeu Zimler toda uma tradição, ainda que o luso-americano provenha de uma família judaica laica, enquanto eu me insiro na revelação de Jesus Cristo e no grande rio que é a Igreja, poderia subscrever perfeitamente as suas palavras, com estas ligeiras diferenças. Tratando-se de Deus, não sei se a diferença é grande ou pequena:
“Aquilo que me atraía [no estudo de Religião Comparada], sempre, era o misticismo. A ideia, em primeiro lugar, de que existe qualquer coisa para além da nossa realidade –outra dimensão, algo de transcendente. Não faço a mínima ideia do que se trata, mas existe. Há falta de outra palavra, terei de dizer que é Deus”.
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