O processo dos Templários, iniciado há precisamente 702 anos (13 de Outubro de 1307), com o aprisionamento de mais de dois mil cavaleiros no mesmo dia, deu origem ao que terá sido o maior julgamento da história, pelo menos até ao séc. XX, não só pelo número de acusados, mas também pela duração do processo e pela contradição das acusações.
Ao longo dos séculos os historiadores têm-se divido quando à culpabilidade dos Templários.
Consideraram-nos culpados: Dupuy (1654), Hammer (1820), Wilcke (1826), Michelet (1841), Loiseleus (1872), Prutz (1888), Rastoul (1905).
Disseram-nos inocentes: Lejeune (1789), Raynouard (1813), Havemann (1846), Ladvocat (1880), Scottmuller (1887), Gmelin (1893), Lea (1898), Fincke (1908). Mais recentemente, tende-se para a inocência dos Templários: “Não se pode afirmar que os Templários não tivesses defeitos, como as outras ordens similares, mas não resta dúvida de que não mereciam tão infamante castigo” (Ricardo Villoslada).
Os Templários foram acusados de idolatria, blasfémia, e sodomia. E acabaram por confessar esses “crimes” sob tortura. Mas o maior crime que cometeram, para o rei de França, foi o de serem ricos.
Criados para protegerem os peregrinos da Terra Santa, tiveram como primeira sede parte do palácio de Balduíno II, sobre o antigo Templo de Salomão, em Jerusalém (daí o seu nome). Os primeiros sete cavaleiros eram franceses, liderados por Hugo de Payens. Corria o ano de 1119.
No Concílio de Troyes (1128) recebem o manto branco (o Papa Eugénio III acrescenta-lhes a cruz vermelha, que mais tarde seria pintada nas caravelas portuguesas, financiadas pela Ordem de Cristo, sucessores dos Templários em Portugal) e a regra escrita por S. Bernardo. Os Templários, aos três votos religiosos (pobreza, castidade e obediência), juntaram o de proteger os peregrinos a caminho Jerusalém, que, pouco depois, se transforma no de combater pela fé cristã (em geral contra os sarracenos). A aprovação definitiva aconteceu em 29 de Março de 1139, por Inocêncio II.
Os Templários foram crescendo e ganhando posses como recompensa pelo heroísmo na protecção dos peregrinos e na reconquista cristã. Eram muito bons no que faziam. Os reis ibéricos (Afonso Henriques e Afonso II de Portugal, Afonso I de Aragão…) recompensaram-nos bem. E um pouco por toda a Europa pediam-lhes para guardarem jóias e outros bens. As suas fortalezas eram os lugares mais seguros do mundo.
No auge do seu poder, no início do séc. XIV, com quatro mil membros, a ordem militar e religiosa, com quartel-general em Chipre, assemelhava-se a uma sociedade bancária e financeira. E despertou a cobiça de Filipe IV, o Belo.
Na perseguição, a Inquisição francesa prestou um excelente serviço à coroa (a prova mais clara de que este poder esteve frequentemente ao serviço do Estado e não da religião). E péssimo à Igreja.
Em 1308, o Papa Clemente V pediu a todas as nações veredictos sobre os Templários. Todos foram favoráveis à ordem, excepto em França. E quando a ordem foi extinta (Concílio de Vienne, 3 de Abril de 1312), porque já estava humanamente destruída, os bens passaram para a Ordem dos Hospitalários (como desejava o Papa), ou para Ordem de Cristo, fundada em 1319 (esperteza de D. Dinis), ou para a própria coroa de França, como sempre quis Filipe IV.
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