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Antes que o sonho (ou o terror) tecera
mitologias e cosmogonias,
antes que o tempo se cunhasse em dias,
o mar, o sempre mar, já estava e era.
Quem é o mar? Quem é o violento
e antigo ser que destrói os pilares
da terra, e é um só e muitos mares
e abismo e resplendor e azar e vento?
Quem o olha vê-o pela vez primeira,
sempre. Com o assombro tal que as coisas
elementares deixam, as formosas
tardes, a lua, o fogo de uma fogueira.
Quem é o mar, quem sou? Sei-o no dia
que virá logo após minha agonia.
Jorge Luís Borges (1899-1986). Tradução de José Bento
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