O Manifesto do Partido Comunista, de 1848, teve um efeito inebriante junto de muitos trabalhadores. Ainda hoje, mesmo sabendo dos efeitos catastróficos que a aplicação das teses marxistas viria a ter nos países de Leste (principalmente a ditadura do proletariado, a luta de classes, o materialista dialéctico, a abolição da propriedade privada… pela via leninista), que não estavam industrializados (daí a junção da foice dos agricultores ao martelo dos proletários), é tentador ceder à explicação marxista da história, interpretada como uma luta entre exploradores e explorados, senhores e esvravos, senhores feudais e servos, capital e trabalhadores - na fase moderna.
“O operário torna-se um mero acessório da máquina ao qual se exige apenas o manejo mais simples, mais monótono, mais fácil de aprender. (…) Massas de operários, comprimidos na fábrica, são organizadas como soldados. São colocadas, como soldados rasos da indústria, sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais subalternos e oficiais”, escrevem Marx e Engels no MPC.
A Igreja apercebe-se – com atraso, dizem alguns – que “os acontecimentos ligados à RI subverteram a secular organização da sociedade, levantando graves problemas de justiça e pondo a primeira grande questão social, a “questão operária”, suscitada pelo conflito entre capital e trabalho” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, Ed. Princípia, n. 88). Fala-se então da “res novae” (realidade nova). É necessário “um renovado discernimento da situações, apto a delinear soluções apropriadas para problemas insólitos e inexplorados” (CDSI, 88).
É neste contexto que surge a encíclica Rerum Novarum (“Das coisas novas”), de Leão XIII, em 1891, que escreve logo na primeira página: “Os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito” (RN, 1).