segunda-feira, 6 de julho de 2009

DSI 1 - O ambiente da "Rerum Novarum"


Charles Dickens escreve em 1854 no romance “Tempos Difíceis”: “Seguramente, nunca houve porcelana mais frágil do que aquela de que eram feitos os industriais de Coketown... Ficavam arruinados se se lhes pedia para mandar as crianças operárias à escola, ficavam arruinados quando eram designados inspectores para visitarem as suas fábricas, ficavam arruinados se estes mesmos inspectores consideravam duvidoso que tivessem direito a cortar as pessoas aos bocados com as suas máquinas, ficavam completamente arruinados se se insinuava que talvez nem sempre precisassem de fazer tanto fumo”.

Coketown é um nome fictício. Trata-se da típica cidade industrial do séc. XIX. Provavelmente nenhum autor como Charles Dickens soube escrever tão bem as consequências sociais da Revolução Industrial: condições de vida miseráveis nas cidades, exploração do trabalhador, crianças enviadas para orfanatos (quando ainda não podiam estar na fábrica), luxo e arrogância para a alta burguesia. Os salários eram baixos, havia trabalho infantil em grande escala (nas minas, as crianças podiam passar por galerias mais pequenas), os horários de trabalho podiam ser de 18 horas, abundavam os castigos físicos, não havia direitos de férias, descanso semanal, auxílio no desemprego. A conquista dos direitos é lenta e com muitos mártires.

A Revolução Industrial (RI), iniciada na segunda metade do séc. XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos têxteis, a exploração mineira em grande escala e o caminho-de-ferro, alastra-se a outros países e transforma por completo a vida da pessoas (a Portugal só chegou no séc. XX; e o processo repete-se hoje no Extremo Oriente). Algumas consequências: a casa deixa de ser o local de trabalho (como era desde a Idade Média) para ser a fábrica; as cidades crescem (Londres é a primeira cidade moderna a ultrapassar um milhão de habitantes porque é possível lá fazer chegar, por comboio, todos os dias, alimentos frescos); a família deixa de ser alargada e passa a nuclear; a mulher, trabalhando, torna-se autónoma; os bens são produzidos e consumidos em massa; o calendário passa a ser gerido em função do trabalho (as férias são um fruto da RI)… Hoje, os nossos costumes são, ainda, claramente fruto da RI, mais do que da Revolução Francesa de 1789.

Se Dickens descreve a sociedade, outros autores, naquela época, avançavam já para a interpretação e solução política. Karl Marx e Friedrich Engels escreveram em 1848 o “Manifesto do Partido Comunista” (MPC - mais tarde simplesmente "Manifesto Comunista"), que termina com o célebre apelo: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...