No “Público” de 6 de Julho de 2009, num texto de Isabel Coutinho, pode ler-se:
“António Lobo Antunes começou a escrever versos «por necessidade material». O seu outro avô tinha morrido e a sua avó era uma mulher «muito piedosa, tinha um oratório em casa, estava sempre rezando». Então, António Lobo Antunes fazia «sonetos a Cristo» que depois vendia à avó. «Isso foi muito bom porque me salvou de andar a pedir esmolas nas esquinas. Entregava-lhe um soneto, fazia um ar triste, ela tinha um oratório muito grande – a minha avó portuguesa – e, à frente do oratório, não sei porquê, é uma relação curiosa, tinha o cofre do dinheiro, mesmo em frente dos santos. Santos, santos, santos e por baixo, o dinheiro. Eu entregava-lhe o soneto a Cristo, que ela punha no oratório, ficava a olhar para ela com olhos de cão batido, até que ela dizia: “Quanto queres, filho?”» Risos por toda a plateia”.
O que merece mais comentários? O facto de ALA contar o episódio? Os risos por toda a plateia? O caso de “enriquecimento” à custa da religião? A piedade da avó? A afirmação de ter sido salvo das esquinas, de uma vida indigente que com certeza teria muito de literário? O comentário do escritor sobre a “relação curiosa” do cofre com os santos? A estranha relação entre ter ganho dinheiro à custa dos sonetos a Cristo (seriam “insinceros” naquela idade de ALA?), à custa do divino, e no final da conversa ter dito: “Deus vos pague”?