sábado, 4 de julho de 2009

O Cardeal Martini e o Padre Brown


No texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

“Scalfari, cujo último livro é L’uomo che non credeva in Dio (O homem que não acreditava em Deus), disse ao cardeal que não crê em Deus e que o diz “com plena tranquilidade de espírito”. E o Cardeal: “Eu sei, mas não estou preocupado por causa de si. Por vezes, os não crentes estão mais próximos de nós do que muitos devotos fingidos”. Para ler aqui.

A afirmação do Cardeal Martini vai directamente para o interior da Igreja, porque, na sequência, seguindo o texto do DN, denuncia-se o carreirismo eclesiástico e realça-se a primazia da caridade sobre a prática religiosa e a necessidade de um concílio.

Mas faz lembrar aquela dimensão purgante do são ateísmo, do ateísmo sem preconceitos que é capaz de dialogar com os crentes, do ateísmo que quase sempre nega aquilo em que os crentes também não acreditam. Podem estar de facto, ateísmo e critianismo, muito próximos, o que faz lembrar a missão do Padre Brown, invocado precisamente no último número da “Communio”, revista tem sido referida em entradas anteriores neste blogue.

Escreve Tolentino Mendonça no artigo “A Bíblia e o Fantástico”: “Figura pequena e atarracada, atrás de uns óculos defensivos, mas munido de um humor desarmante, ele [Padre Brown, que é detective, criação de Chesterton] atravessa enredos que são na aparência Fantásticos: o sobrenatural irrompe aí das formas mais diversas, provocando reviravoltas espectaculares e inauditas. Ora, a missão do Padre Brown é precisamente dissolver o «efeito Fantástico», encontrando uma explicação racional para o que havia sido, demasiado rapidamente, declarado inexplicável. Aos olhos dos outros personagens, o Padre detective não pode ser senão controverso: mais descrente que os descrentes, irónico e minucioso, a agarrar-se convictamente à racionalidade, quando tudo nos deveria deslocar para o âmbito das formas espirituais. No fundo, ele combate para purificar o modo como o cristianismo e a religião são olhados, num tempo que diz não acreditar em nada, mas que na verdade acredita em demasiadas coisas e projecta-as caoticamente na cultura”.

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