sábado, 11 de julho de 2009

A incredulidade de Pedro Mexia no santo divã


Gosto de apontar neste blogue os usos profanos da linguagem religiosa. Chamo-lhes “inspirações” (ver etiqueta), palavra que remete para algo que vem do alto. Há quem nos seus textos fale de pecados e revelações, céus e heresias… Faço estas notas como sinais da impossibilidade de reclusão da semântica religiosa no que é estritamente religioso. A linguagem religiosa dá quase sempre boas metáforas para falar do que é importante, sublime, doloroso…

Pedro Mexia, no P2 de 11 de Julho, escreve sobre uma visita à casa de Freud em Londres (n.º 20 de Maresfield Gardens, como refere), a sua familiaridade com os textos de Freud e a fé ou falta de fé na psicanálise.

O texto chama-se “santo divã”. Logo no título temos um caso, a que será de acrescentar a imagem que ilustra o texto. O cronista descreve um sofá com colcha, mais de acordo com a imagem que se reproduz acima do que com a do “Público”, onde o móvel aparece despido. É bem de ver que o divã é o altar da psicanálise, embora não seja usada a palavra altar, nem sacerdócio (saberá Mexia da abstinência sexual da segunda metade da vida de Freud?), nem sacrifício.

Pedro Mexia diz que entrou a medo, “num espreito quase religioso”. Claro, estava a pisar o santuário. A certa altura diz: “Aproximei-me o mais que pude do divã. O santo divã, relíquia do mundo ocidental”. Parecia Moisés a aproximar-se da sarça.

E ainda: “A Psicanálise como terapia tem uma dimensão de fé. É como os bonecos vudu: só morre quem acredita. Ou, neste caso, só vive quem acredita. Eu não acredito, nunca acreditei, passei pelos santos divã como jogo intelectual, mas ninguém cura coisa nenhuma, ou pelo menos não me foi dada essa fé”.

Pedro Mexia saiu “de mansinho da casa do bom doutor”. Saiu “reconfortado”, mas não convertido.

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...