"A fé é legítima, genuína, em muitos casos, e até saudável. Mas na minha opinião parte dos princípios errados. Se Deus me coloca perante a hipótese de um milagre e mo retira, então é má pessoa. A resposta mais simples é Deus não existir".
Rui Cardoso Martins num texto de Alexandra Lucas Coelho no Ípsilon (Público) de hoje.
Contexto: Rui Cardoso Martins escreveu "Deixem Passar o Homem Invisível" (Dom Quixote), livro que, tudo indica, é muito belo. Um cego e um escuteiro de oito anos, um lobito, percorrem Lisboa de S. Sebatião da Pedreira (ao pé do El Corte Inglés) até ao Tejo. Mas percorrem-na pelo boqueirão, debaixo de terra. O autor do livro e a jornalista fazem o mesmo trajecto, mas à superfície.
Subtexto: Rui Cardoso Martins perdeu a mulher, Tereza Coelho, há meses, a quem o livro é dedicado. Suponho que esperava um milagre. Foi operada a um tumor na cabeça. Mas morreu mais tarde de uma septicémia.
"Rui caminha pelo meio da rua vestido de preto, com os anéis de Tereza no dedo mindinho".
(O meu) Pretexto: A hipótese de Deus não existir pode ser a mais simples. (Até nem é.) Mas o que interessa é se é a mais verdadeira. Se Deus me coloca perante a hipótese de um milagre, é porque existe. Se não mo dá, talvez eu possa perguntar: "Para quê?" Embora a mente descaia para o "Porquê?" A resposta "A resposta mais simples é Deus não existir" satisfaz o "porquê" (do ponto de vista do autor), mas para viver é mais preciso o "para quê".
Rui Cardoso Martins também diz como uma personagem: "Ainda bem que não sou pessoa para interrogar os desígnios de Deus, ou começava a desanimar". Mas isso é no meio do texto. No fim, fica o desencanto da perda. "Não é a fé das igrejas".
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