No “Público” de hoje, José Manuel Fernandes (JMF) escreve no “Editorial” sobre “aquilo que interessa no mundo”. Refere dois acontecimentos: a publicação da encíclica social de Bento XVI e o discurso de Obama, sem os complexos de colonização, no Gana. O destaque vai para a “Caritas in Veritate” (JMF promete continuar amanhã). O texto é reservado a assinantes no “Público” online. Mas deixo aqui uns excertos:
“Do muito que se deverá escrever e debater sobre o conteúdo deste documento, dois aspectos merecem especial destaque. O primeiro é a clarificação de que a doutrina social da Igreja não se opõe à economia de mercado, nem impõe uma economia comandada, isto é, não é anticapitalista, como por vezes é interpretada. O segundo é a clareza com que aborda a falência das instituições multilaterais, das Nações Unidas às diferentes organizações de cooperação económica”.
“No centro desta encíclica está o conceito de «responsabilidade», infelizmente muito em desuso: «O desenvolvimento humano integral supõe a liberdade responsável da pessoa e dos povos: nenhuma estrutura pode garantir tal desenvolvimento, prescindindo e sobrepondo-se à responsabilidade humana», escreve Bento XVI”.
“[Bento XVI] considera que, «perante o crescimento incessante da interdependência mundial, sente-se imenso – mesno no meio de uma recessão igualmente mundial – a urgência de uma reforma quer da Organização das Nações Unidas, quer da arquitectura económica e financeira internacional». No fundo «um grau superior de ordenamento internacional de tipo subsidiário para o governo da globalização»”.
E JMF remata: “Algo que não é o G8, mas talvez possa ter como embrião o G20. Não está escrito, mas está nas entrelinhas”.
Dois comentários. Não me parece que a não oposição à economia de mercado seja uma novidade (já estava claramente dito na “Centesimus Annus”, de 1991, e quase nunca a doutrina social teve simpatias pelas economias dirigidas, embora não descure a intervenção do Estado na distribuição da riqueza e nas questões graves como a do emprego/desemprego; ver a “Laborem Exercens”, de 1981). Já quanto à falência das instituições, tendo em conta que a DSI foi sempre internacionalista, ou seja, olha positivamente para as instituições que sentem à mesma mesa várias nações, será aspecto a analisar com atenção.
Mas é significativo que um jornal nacional de referência chame para o editorial este assunto. Da imprensa que tenho lido, o "Público" foi o único órgão nacional que deu espaço relevante ao documento papal.
500 anos de Calvino
Ainda no “Público”, mas no P2 de 11 de Julho, dois textos de António Marujo a ler com atenção, a propósito dos 500 anos do nascimento de João Calvino (10 de Julho de 1509): a entrevista a Dimas de Almeida e o esboço biográfico do reformador. Aqui.