Solidariedade não é vaga compaixão, mas antes a determinação firme de se empenhar no bem comum - é esta a pedra angular da Sollicitudo Rei Socialis (SRS), que João Paulo II publicou em 1987. São cinco os aspectos fundamentais da encíclica.
* Esperanças distantes. A SRS constata que as esperanças de desenvolvimento que havia na década de 1960 “parecem hoje [1987] muito longe da sua realização”. O “optimismo difuso quanto à possibilidade de colmatar, sem esforços excessivos o atraso económico dos povos menos favorecidos” não se concretizou. Pelo contrário, o fosso entre países pobres e ricos agravou-se.
* Há, no entanto, novas tendências positivas, como a consciência da interdependência radical – e, por isso, “da necessidade de uma solidariedade que a assuma e traduza no plano moral” –, a preocupação pela paz, a preocupação ecológica e “certa auto-suficiência alimentar”.
* Novo conceito de desenvolvimento. Paulo VI já havia dito que o desenvolvimento deve ser integral, “para todas as pessoas” e “para a pessoa toda”. João Paulo II insiste na recusa da redução da questão ao aspecto económico. O “superdesenvolvimento que consiste na excessiva disponibilidade de todo o géneros de bens materiais” é consumismo ou “civilização do consumo”. O genuíno desenvolvimento tem de estar orientado por um “parâmetro interior” que é a natureza corporal e espiritual específica do ser humano (SRS 29); consiste em melhorar a sorte da pessoa toda e de todas as pessoas à lua da fé em Cristo (30), promovendo os Direitos humanos (33) e respeitando todos os seres criados (34).
* Estruturas de pecado. O conceito surge no n.º 36. Trata-se de uma categoria para aplicar à situação do mundo contemporâneo. João Paulo II refere-se a estruturas sociais, instituições, sistemas ou “o conjunto de factores negativos, que agem em sentido contrário a uma verdadeira consciência do bem comum universal”. Nesta noção cabem os sistemas opostos em que o mundo se dividia (Ocidente e Bloco de Leste), o sistema económico gerador de desigualdade, os regimes políticos não democráticos… O Papa insiste que as estruturas de pecado e os pecados sociais radicam no pecado pessoal. Na actividade económica tem de haver juízos ético-morais. Sistemas aparentemente impessoais não podem isentar-se de uma avaliação ética e mesmo de uma avaliação em perspectiva religiosa – o que será um exercício especialmente delicado para os políticos católicos.
* A doutrina social da Igreja não tem soluções técnicas para dar ao desenvolvimento; não tem preferências por sistemas os programas económicos e políticos, desde que a dignidade humana seja devidamente respeitada. Como é “perita em humanidade” e cumprindo a sua missão de evangelizar, a Igreja quer contribuir para a “solução do urgente problema do desenvolvimento quando proclama a verdade acerca de Cristo, de si mesma e do ser humano”.
A doutrina social é um instrumento de denúncia e de anúncio. Este é mais importante do que aquela, porque “lhe dá a verdadeira solidez e a forma da motivação mais alta”. A doutrina social assume-se como dimensão profética da Igreja (41).