O filósofo francês Michel Onfray, “ateu, hedonista, libertário e anti-liberal”, disse numa entrevista à TSF, no dia 13 de Maio, que não acreditava no “velhote de barba branca”, nem na “transcendência de Deus” e que a religião é uma “ficção que torna a vida impossível”, que “apodrece a existência”.
Os argumentos de Michel Onfray são os mesmos de Nietzsche. Mas, há que admitir, passados mais de cem anos, estão a ganhar mais visibilidade.
Talvez a religião até apodreça algumas existências. Mas a fé em Cristo engrandece a vida. É a experiência genuína dos crentes. As palavras do filósofo, como qualquer boa provocação, merecem resposta.
Ele tem um livro em português que é Tratado de Ateologia. Não vou comprá-lo, porque não quero investir o meu dinheiro nisso, mas vou saber o que diz – o que até nem é difícil através da net.
Por exemplo, diz que «três milénios testemunham, dos primeiros textos até hoje, a afirmação de um Deus único, violento, invejoso, quezilento, intolerante, belicoso, que gerou mais ódio, sangue, mortos, brutalidade do que paz…»
Diz ainda que é preciso “trabalhar para uma nova ética e criar as condições de uma verdadeira moral pós-cristã, onde o corpo deixe de ser uma punição, a terra um vale de lágrimas, a vida uma catástrofe, o prazer um pecado, as mulheres uma maldição, a inteligência uma presunção, e a vontade uma danação».
Numa expressão ou noutra destas citações, é possível ver uma crítica válida à prática dos cristãos. Mas nada de substancial. Nada de novo.
Voltando à entrevista, quando Carlos Vaz Marques lhe pergunta: “Qual é a sua direcção pessoal?”, a resposta é: “A minha direcção é o hedonismo é fazer as coisas de maneira que na breve existência que me foi concedida que não me arrependa de nada”.
Esta resposta não está longe de um excerto da epopeia de Gilgamesh (rei sumério do séc. XXVIII a. C.). A pergunta é a mesma (a da direcção, o sentido). E a resposta, tal e qual (o prazer).
«Para onde vão os teus passos, Gilgamesh? Não encontrarás a vida que procuras; quando os deuses criaram o homem, deram-lhe a morte por herança. Tinham a vida nas suas mãos. Gilgamesh, enche a barriga, sê feliz dia e noite, faz com que os dias transbordem de alegria, dança e faz música dia e noite. Veste roupa novas, lava a cabeça e saboreia um bom banho. Olha para a criança que levas pela mão. Faz com que a tua esposa goze o teu abraço. Só estas coisas são dignas do homem».