O teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, falando aos bispos colombianos, propõe que se faça uma elpidologia (de “elpis”, esperança). Mais do que uma ciência, é um papel a desempenhar, um tratamento: antes de discutir as soluções, lançar com toda a profundidade as interrogações. Um tratamento que, em vez de estabelecer a “disjuntiva entre religião e ateísmo”, reconheça a comunidade do ponto de partida e procure a possibilidade de um “novo encontro nos trajectos ainda unitários” antes da “bifurcação das respostas”.
A proposta é estimulante. Mas não é curioso reparar que este tipo de propostas parte sempre dos crentes? Creio que não há hoje católicos com papéis relevantes na direcção de comunidades ou no pensamento teológico que não advoguem este encontro de crentes e ateus. Porém, pelo menos entre os ateus portugueses, não vejo que o convite seja aceite. E ainda menos que eles próprios o façam. “Vamos lá convidar os católicos a pensar connosco este problema. Vamos ao encontro deles, a ver o que eles dizem… O que é que o Papa dirá sobre isto?” Tais frases são inverosímeis, talvez porque os ateus portugueses ainda são muito adolescentes, muito revoltados, muito ressentidos. Talvez porque no fundo são (somos) todos católicos, uns praticantes, outros não, mas todos na mesma órbita. E também porque os ateus portugueses são todos ateus anticlericais (ateus católicos, portanto).
Mas o encontro é necessário. Católicos, ateus, indiferentes, maçons, agnósticos, cristãos, homens de boa vontade.
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