segunda-feira, 22 de março de 2010

Le Monde des Religions: A vida depois da vida

Saiu mais um número de “Le Monde des religions”. São tantos os assuntos interessantes, é tanta a matéria para ler, que é difícil apontar tudo aqui. Comecemos pelo editorial, que pode ser lido e visto online. Fréderic Lenoir manifesta-se contra a canonização de Pio XII. Não diz, como outros, que Pio XII sabia e nada fez contra o Holocausto. Sabia e fez alguma coisa. Mas agiu com demasiada prudência e não com profecia. “Imaginemos que eles [Pedro ou Paulo] tinham sido papas no lugar de Pio XII. Não os imaginamos a ceder perante o regime nazi, mas antes a decidir morrer com os milhões de deportados inocentes. Eis o acto de santidade, de porte profético que, nas circunstâncias tão trágicas da história, poderíamos esperar do sucessor de Pedro. Um papa que dá a sua vida e que diz a Hitler: «Prefiro morrer com os meus irmãos judeus a caucionar esta abominação»".

É duro de ler. Mas faz pensar.

O dossiê é dedicado à “vida depois da morte” nas diferentes religiões. Há ainda artigos sobre os judeus em Anvers (Bélgica), um dia na vida de uma testemunha de Jeová, “três chaves para compreender Nietzsche (são elas: “morte de Deus”; “o super-homem”; e “o eterno retorno”), um texto sobre o cineasta Dreyer, outro sobre o romancista Michel Tournier… O melhor é ficar com o índice.

Árvore da História da Europa

Ontem foi o Dia da Árvore, um dos dias mais bonitos do ano. Há tempos apontei diversas “árvores do conhecimento” (1, 2, 3, 4). Mas há dias dei com esta magnífica “Geschictesbaum Europa” – árvore da História Europa, de autor desconhecido. Infelizmente não dá para ler muito, mas dá para perceber algumas coisas. O ano 0 (zero) está no princípio do tronco. A cada ramo corresponde uma nação, embora também haja ramos para a política e a cultura. Portugal, a par da Espanha, sai do segundo grande ramo da esquerda.

Ana Vicente: A instituição Igreja tem um problema estrutural e cultural

No "Público" de hoje, um conjunto de questões postas por Ana Vicente. São incontornáveis. Alguém tem de pensar nelas. Nós todos os que gostamos da Igreja católica.

22 de Março de 1946. Morre D. Clemens August von Galen, opositor ao nazismo

Clemens August von Galen (nome completo: Clemens Augustinus Joseph Emmanuel Pius Antonius Hubertus Marie Graf von Galen), de origens nobres, nasceu em 1878, estudou nos jesuítas, e foi ordenado na diocese de Munster, em 1904.

Bispo desde 1933, ano da ascensão de Hitler, opôs-se ao nazismo, tendo participado na redacção da encíclica de Pio XI “Mit brennender sorge”. As homilias deste bispo que ficou conhecido por “o Leão de Munster”, principalmente contra o programa de eliminação de portadores de deficiência, levaram Hitler a suspendê-lo bem como ao envio para os campos de concentração de dezenas de padres e religiosos da sua diocese.

Depois da guerra, foi feito cardeal por Pio XII, em 18 de Fevereiro de 1946, cerca um mês antes de morrer. Bento XVI beatificou-o no dia 9 de Outubro de 2005, em Roma.

domingo, 21 de março de 2010

O caminho das religiões

"Cada religião parece-me uma forma especialmente apta que Deus emprega para falar a uma raça. Eu quero crer que o cristianismo seja a sua mais bela elocução; mas não posso admitir que seja a única".
Jacques Riviére (1886-1925)

Bento XVI tenciona visitar a Irlanda

Nas notícias que li na imprensa há um aspecto que não é afirmado com clareza, mas é importante. Bento XVI tenciona visitar a Irlanda. A "visita apostólica" foi tomada como inquérito, mas julgo que se tratará mesmo de uma visita papal. Será a visita mais difícil de Bento XVI.

Diz a Carta Pastoral (perto do final):
"Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento".

Bento XVI e a pedofilia

"Papa manifesta vergonha, assume responsabilidade e quer caminhos de cura". Quatro páginas no "Público" de hoje sobre a Carta Pastoral do Papa aos católicos irlandeses, ontem divulgada, e a questão do celibato, aqui.


A Carta Pastoral, ainda em tradução não oficial, pode ser lida aqui.

21 de Março de 1685. Nasce Johann Sebastian Bach

"Lasset uns den nicht zerteilen", excerto da "Paixão segundo São João", de J. S. Bach

Johann Sebastian Bach nasceu no dia 21 de Março de 1685, em Eisenach (a terra onde Lutero traduziu para alemão o Novo Testamento), e morreu no dia 28 de Julho de 1750, em Leipzig. O compositor maior do barroco, para muitos, o maior músico da história, era luterano. A maior parte música de Bach é de matriz religiosa. Também compôs peças para ritos católicos. Já alguém disse que, felizmente, o protestantismo apreciava a música. De contrário, não se teria revelado o génio.

Emil Cioran disse que "a música de Bach é o único argumento que prova que a criação do universo não pode ser vista como um grande erro". Tirando a parte do “único”, concordo.

Texto de Bento Domingues no "Público" de hoje. "O amor de pura gratuidade situa-se na órbita do divino". "Deus não faz negócio com os seus dons". "S. Francisco de Assis é sempre apontado como o grande poeta cristão. Há outros, mas o maior de todos é português: S. João de Deus. Cada um descubra porquê".

Para terminar o dia: "Senhor, dá a cada um a sua própria morte"

Ó Senhor, dá a cada um a sua própria morte,
Uma morte nascida da sua própria vida,
que lhe deu amor, sentido e aflição.

Porque nós mesmos somos apenas a folha e a casca.
A grande morte que cada um traz em si
É o fruto e o centro de tudo.

Rainer Maria Rilke (1875-1926)

sábado, 20 de março de 2010

Napoleão a caminho do Governo dos Cem Dias

Sátira num jornal inglês a quando do início do exílio de Napoleão na ilha de Elba

Na procura diária de um facto do passado relacionado com a mundividência cristã, dei com a informação de que no dia 20 de Março de 1815, Napoleão entra em Paris, sem oposição, depois de ter fugido da ilha de Elba, no dia 26 de Fevereiro desse ano. Não tem propriamente a ver com o espírito deste blogue, mas permite recordar os títulos da capa do jornal “Le Moniteur Universel”. A história está contada de muitas formas em sítios e revistas, com ligeiras variações. Esta é uma delas [note-se que a história diz que, efectivamente, Napoleão chegou a Paris no dia 20 de Março – para o “Governo dos Cem Dias”].

9 de Março - O antropófago saiu da toca [Napoleão sai da ilha]

10 de Março - O ogre da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan [chega a França continental]

11 de Março - O tigre apareceu em Gap. As tropas estão a chegar de todos os lados para deter-lhe a fuga. A miserável aventura acabará em fuga nas montanhas.

12 de Março - O monstro pernoitou em Grenoble.

13 de Março - O tirano passou por Lyon. O terror apoderou-se de todos os que o viram chegar.

15 de Março - O usurpador arriscou-se a chegar a umas 60 horas da capital.

19 de Março - Bonaparte avança a passos largos mas nunca entrará em Paris [Napoleão na periferia de Paris]

20 de Março - Napoleão chegará amanhã aos muros de Paris.

21 de Março - O imperador chegou a Fontainebleau.

22 de Março - Sua majestade Imperial deu entrada, ontem à tarde, nas Tulherias, entre os seus fiéis súbditos. Nada pôde superar a alegria universal.

Anselmo Borges: Religião e saúde

Anselmo Borges no DN deste sábado:


Kant alinhou as tarefas fundamentais da Filosofia: "O que posso saber?", "O que devo fazer?", "O que é que me é permitido esperar?" No fundo, elas reduzem-se a uma quarta pergunta, para a qual remetem: "O que é o Homem?"


Segundo Kant, precisamente à terceira pergunta responde a religião, o que significa que, para ele, o que a determina é a esperança de salvação, felicidade, consolação, sentido último. Deus "deve" moralmente existir - é um postulado da razão prática -, para que se dê a harmonia entre o dever cumprido e a felicidade.


Claro que é sempre possível perguntar se realmente a religião consola e como. Para viver a religião verdadeira, é preciso estar disposto a sacrificar-se pela dignidade, pela justiça, pela verdade: pense-se, por exemplo, na cruz de Cristo. E está sempre presente a ameaça de projecção e ilusão, como denunciaram os "mestres da suspeita". De qualquer forma, não há dúvida de que a religião tem a ver com felicidade e sentido último.


Há hoje inclusivamente estudos que mostram uma relação globalmente positiva entre a religião e a saúde - note-se que, significativamente, o étimo latino de saúde e salvação é o mesmo: «salus», «salutis», em conexão com saudar e saudade: «salutem dare». Ao contrário de R. Dawkins, que supõe que é largamente aceite pela comunidade científica que a religião prejudica os indivíduos, reduzindo o seu potencial de saúde e sobrevivência, Mario Beauregard, investigador de neurociências na Universidade de Montréal, escreve que se acumulam provas consideráveis que mostram que as experiências religiosas, espirituais e/ou místicas "estão associadas a melhor saúde física e mental".


No quadro da "medicina psicossomática", é sabido hoje, por exemplo, que o stress ou a solidão podem contribuir para aumentar a tensão arterial. Foi assim que se começou a estudar também a fisiologia da meditação para compreender a influência do espírito sobre o corpo. Na sua obra "The Spiritual Brain", Beauregard cita 158 estudos médicos sobre o efeito da religião na saúde, concluindo que 77% fazem menção de um efeito clínico positivo. Um estudo mostrou que os "adultos mais idosos que participam em actividades religiosas pessoais antes do aparecimento dos primeiros sinais de handicap nas actividades do quotidiano têm mais esperança de vida do que os que o não fazem".


Há também dados que mostram o desejo dos doentes de que os médicos conheçam as suas crenças religiosas e que as tenham em conta. Falar sobre o assunto pode aumentar a compreensão médico-doente. Por outro lado, uma sondagem junto de 1100 médicos americanos mostrou que 55% estavam de acordo com a afirmação: "As minhas crenças religiosas influenciam a minha prática da medicina."


No seu novo livro, "How God Changes your Brain" ("Como muda Deus o teu cérebro"), o neurologista Andrew Newberg mostra, através da ressonância magnética nuclear funcional, que a meditação e a oração intensas alteram a massa cinzenta, reforçando as zonas que concentram a mente e alimentam a compaixão; também acalmam o medo e a ira. "A religião e a ciência são as duas forças mais poderosas em toda a história humana. São as duas coisas que nos ajudam a organizar e a entender o nosso mundo. Porque não procurar uni-las?"


Note-se, porém, que os efeitos não são sempre positivos. É fundamental a imagem que se tem da entidade superior, benevolente ou malévola. Beauregard refere um estudo que mostra que os idosos e doentes corriam maior risco de morrer, se tivessem "uma relação conflituosa com as suas crenças religiosas".


Por outro lado, os ateus dirão que precisamente a imagiologia cerebral das pessoas mergulhadas na oração é a prova de que a fé é uma ilusão, pois apenas mostra o que se passa no cérebro. Responde Newberg: "Pode ser que seja só o cérebro a fazê-lo, mas também poderia ser o cérebro recebendo o fenómeno espiritual", acrescentando: "Eu não digo que a religião seja má ou não real. O que digo é que as pessoas são religiosas e procuramos saber como isso as afecta".

20 de Março de 579. Morre Martinho de Dume

"Martinho, bispo bracarense" - lê-se no canto superior esquerdo

Martinho nasceu na Panónia (Hungria), por volta de 518, e morreu em Dume, perto de Braga, no dia 20 de Março de 579. Foi bispo de Dume (a diocese correspondia ao morteiro) e depois de Braga. Evangelizador dos suevos, que então eram maioritariamente arianos, e devoto de Martinho de Tours, cujo túmulo chegou a visitar, escreveu para si próprio o seguinte epitáfio: “Nascido na Panónia, atravessando vastos mares, impelido por sinais divinos para o seio da Galiza, sagrado bispo nesta tua igreja, ó Martinho confessor, nela instituí o culto e a celebração da missa. Tendo-te seguido, ó patrono, eu, o teu servo Martinho, igual em nome que não em mérito, repouso agora aqui na paz de Cristo”.

sexta-feira, 19 de março de 2010

19 de Março de 1721. Morre Clemente XI

Clemente XI (Giovanni Francesco Albani, 22-07-1649 – 19-03-1721) foi Papa de 23 de Novembro de 1700 até 19 de Março de 1721. Morreu no dia de S. José, de quem era devoto. O pontificado desta Papa de grande erudição ficou marcado três acontecimentos: disputas pelo trono de Espanha (1702-1714), em que Portugal também se vê envolvido, que acabam com a assinatura do Tratado de Utreque, que significa perda de parte dos Estados Pontifícios; condenação do quesnelismo, uma derivação do jansenismo, através da encíclica “Unigenitus”, de 1713; e por uma tomada de posição em favor dos dominicanos e contra os jesuítas na questão dos “ritos chineses”.

Na bula “Ex illa die”, publicada, por coincidência, no dia 19 de Março de 1715, o Papa diz que os convertidos ao catolicismo não podem participar nos festivais de Primavera e de Outono, em que veneravam Confúcio e os antepassados, nem venerar os antepassados nos tempos familiares. Por outro lado deviam deixar de usar a expressão “Senhor celeste” (“Tianzhu”). Apesar de “Deus” (latim) soar mal em chinês, é o termo que deve ser usado. É o início do fim das missões católicas na China.

Os casos de pedofilia no clero põem em causa o celibato?

Os casos de pedofilia no clero põem em causa o celibato dos padres? Há duas correntes com opiniões ligadas, parece-me, ao seu próprio estatuto. Os bispos e padres tendem a dizer que não, que os valores do celibato continuam sólidos. Caso exemplar desta corrente foi a opinião de D. Januário Torgal, que na SIC disse a Miguel Sousa Tavares – cito de cor – que a prova de que o celibato não está em causa é que a maior parte dos casos de pedofilia acontece no interior da própria família das vítimas. Mas também houve bispos, como o cardeal de Viena (aqui), e padres, como Hans Kung, que disseram que o celibato é a raiz do mal. O teólogo suíço foi o mais contundente, alargando a questão a outros âmbitos (aqui).

Do lado do “sim, o celibato está causa” (ou até mais do que isso), recolho a opinião de Paulo Varela Gomes, no “Público” de 13 de Março.

D. Carlos Azevedo: "Pensamento de Galileu"

Galileu considerou a descoberta de planetas menores, os satélites de Júpiter, uma graça especial de Deus.

Foi lançada, no passado dia 17, na Gulbenkian, a primeira tradução portuguesa do livro de Galileu Galilei (1564--1642) publicado há quatrocentos anos em Veneza, ‘Sidereus Nuncius’ (‘O Mensageiro das Estrelas’). A importância deste texto breve para a história do pensamento científico mereceu o enquadramento, no fechar do Ano Internacional de Astronomia. Espanta o tom simples, próprio de gazeta, da descrição maravilhosa do que Galileu acabava de observar, graças ao novo instrumento, o telescópio, criado pelos holandeses e aperfeiçoado pelo cientista.

As novidades que Galileu relata eram sensacionais e revolucionárias e catapultaram o professor universitário de Pádua, perito em mecânica, para pioneiro da astronomia moderna e permitiram-lhe conquistar o lugar de filósofo natural e matemático de corte, junto dos Medici, em Florença. Ainda hoje ficamos admirados com as gravuras e os esquemas, os power-point da altura, aos quais Galileu recorre na edição de 1610. O estudo da superfície da Lua demonstra o génio observador e a sua capacidade de transmissão literária e visual.

Absoluta novidade astronómica era a existência de planetas menores, os satélites de Júpiter. Galileu considerou essa descoberta uma graça especial de Deus.

Em excelente tradução muito anotada e informadíssimo texto introdutório, Henrique Leitão revela o seu domínio da história da ciência e oferece aos leitores uma perspectiva simultaneamente acessível e rigorosa do enquadramento desta obra fantástica, autêntico relatório científico, escrita nos últimos 15 dias de Janeiro de 1610. Sujeita a sucessivas correcções, seria publicada a 13 de Março e com 550 exemplares esgotados em poucos dias. Até teve uma edição pirata em Frankfurt logo em 1610, tal era a procura!

Depressa os jesuítas romanos confirmaram estas notícias sensacionais e Galileu realizava uma viagem entusiasta à Accademia dei Lincei, em plena Roma. Foi através dos jesuítas que Galileu chegou a Portugal, à Índia e à China. Logo em 1615, o ‘anúncio sideral’ era objecto do curso de Giovanni Paolo Lembo, no Colégio de Santo Antão, em Lisboa. Os problemas cosmológicos que as novidades galileanas lançavam eram aí discutidos.

A edição da Fundação Gulbenkian esclarece cabalmente o lugar ímpar que certos escritos assumem na história. No meio de uma semana pesada de inquietações, será estimulante reconhecer, nos degraus do avanço científico, os rasgos de inovação provenientes de observadores corajosos, como Galileu.

D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa

Fonte: Correio da Manhã

Inspirações: Virtudes teologais

"Em Portugal, além das três virtudes - fé, esperança e caridade -, há medo".
José Miguel Júdice, Visão (18 de Março de 2010)

História, liberdade e Deus

“Para suprimir Deus, é preciso primeiramente suprimir a História, isto é, a possibilidade para um grupo humano de dar provas da sua liberdade. Eis porque a História, que foi no século passado o terreno da reconquista do homem sobre Deus, se tornou o terreno da reconquista de Deus pelo homem”.

Jean-Marie Domenach (1922-1997), intelectual católico francês, director da revista “Esprit” da 1957 a 1976

Três páginas do "Público" sobre pedofilia no clero

No "Público" de ontem (18 de Março), três páginas (no papel) dedicadas à pedofilia no clero da Igreja Católica:

* Os bispos portugueses vão discutir possíveis casos de abusos sexuais de menores em Abril (aqui)
* A cronologia dos escândalos (aqui)
* Angela Merkel diz que problema não é exclusivo da Igreja e cardeal irlandês não se demite (aqui)
* Portugal: Um país, uma condenação de um padre brasileiro por crimes de abuso sexual contra menores (aqui).

quinta-feira, 18 de março de 2010

Um mundo que nasce - Revista Communio

O terceiro número de 2009 da COMMUNIO, acabado de sair, tem como tema “Um mundo que nasce”. Numa nota à imprensa, os editores explicam o sentido da publicação: “É hoje comum a percepção de uma crise não só económica mas que se entende ao domínio dos valores. A uma observação meramente negativa é necessário impor-se uma atitude positiva que descubra na crise a oportunidade de «um mundo que nasce»”.

A revista contém 14 artigos. Valerá a pena destacar cinco. 1) “Mercado, economia e ética”, por Joseph Ratzinger. Trata-se de um artigo escrito em 1986 e, ao que tudo indica, uma das poucas vezes que Bento XVI, então cardeal, abordou o tema da economia antes da “Caritas in veritate”. 2) “O valor da «Crise de valores»”, de J. M. Pereira de Almeida, padre e médico lisboeta. No artigo, sublinha que a crise de valores tem um valor imenso de apresentar “o diálogo sereno e confiante” como ferramenta para uma “ética partilhada”. 3) “Reinventar a solidariedade”, pelo Cardeal Oscar Maradiaga, bispo ondurenho e presidente da Cáritas Internacional, que analisa a “má definição de ser humano”, “má concepção de humanidade”, de que padece a economia actual. 4) “Causas da crise”, por Luís Campos e Cunha. Num texto avisado e anti-sensacionalista, o Ministro das Finanças em 2005 considera que a “falta de ética teve o seu papel mas não é a causa” da crise económica. “É necessário (…)” reconhecer, com humildade, o muito que não sabemos”. 5) “As encruzilhadas da crise contemporânea. Por um futuro sustentável”, por Viriato Soromenho Marques, professor de Filosofia (e em tempos presidente da Quercus), que apela à construção de uma “narrativa comum à altura da gravidade das alterações climáticas”.

Temos nesta revista muitos instrumentos para interpretar o mundo actual na sua vertente económica, com uma certeza: o paradigma do mercado não mudou (por outras palavras: continua o domínio do capitalismo), mas também não se dispensa a ética.

O índice todo:
António Martins. Entre a liberdade e a confiança. Ulisses e Abraão
Card. Joseph Ratzinger. Mercado, economia e ética
J. M. Pereira de Almeida. Crise, sinal dos tempos
José Patrício. Crise, sinal dos tempos
Luís Campos e Cunha. Causas da Crise
E.-W. Bockenforde. O homem funcional. Capitalismo, propriedade, papel dos Estados
V. Soromenho Marques. As encruzilhadas da crise contemporânea. Por um futuro sustentável
M. J. Melo Antunes. Uma nova terra. Em resposta à crise: a evolução da consciência
Elena Curti. Derradeiro risco
M. Brandão Alves. Com o microcrédito dar novas vidas à vida
João W. Meneses. Peixe amarelo – Pistas para um mundo melhor
F. Sarsfield Cabral. Futuro incerto para a comunicação social
Claude Dagens. Teologia e razão contemporâneas. As razões cristãs para fazer Teologia


COMMUNIO. Revista Internacional Católica
“Um mundo que nasce”
Jul/Ago/Set de 2009

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...