sábado, 13 de julho de 2013

Anselmo Borges: "A última encíclica de Bento XVI"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

"Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 29 de Junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, do ano 2013, primeiro do meu Pontificado. Francisco" (assinado à mão, sem a indicação habitual de papa). Termina assim a primeira encíclica do Papa Francisco, dedicada ao tema da fé: "Lumen Fidei" (a luz da fé).
Como ele próprio diz, a encíclica foi substancialmente redigida pelo seu predecessor: Bento XVI "já tinha completado praticamente uma primeira redacção desta Carta encíclica sobre a fé. Agradeço-lhe de coração e assumo o seu precioso trabalho, acrescentando alguns contributos". De facto, o papa emérito tinha em mente uma trilogia sobre as três virtudes teologais e já publicara uma encíclica sobre a esperança, outra sobre o amor, faltando a referente à fé, que aparece agora. Um texto belo, bem fundamentado, talvez demasiado académico, com citações de Nietzsche, Dante, Dostoievsky, Wittgenstein, Rousseau,T. S. Eliot.
A sua assunção por parte de Francisco revela humildade e também o reconhecimento do mérito intelectual do seu antecessor e, ao mesmo tempo, a importância da teologia para o cristianismo. Sem teologia, a fé não é argumentável. Mas, se a fé não dialoga com a razão, não tem lugar na Universidade, ficando reduzida a puro sentimento. Esta era uma preocupação fundamental de Bento XVI.
Será a fé religiosa uma mera ilusão, fruto do espelhismo? Lá está a citação de Nietzsche, numa carta à irmã, convidando-a a arriscar-se, a "empreender novos caminhos... com a insegurança de quem procede autonomamente". E acrescenta: "Aqui se dividem os caminhos do homem: se queres alcançar paz na alma e felicidade, crê; mas, se queres ser discípulo da verdade, indaga." Como se a fé fosse, portanto, o contrário de buscar, abandonando a novidade e a aventura da vida.
Aconteceu então que "o homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade grande", contentando-se com a verdade da tecnologia, com a verdade do cálculo, com pequenas luzes que iluminam o instante fugaz, mas incapazes de abrir o caminho da vida plena. "É urgente recuperar o carácter luminoso próprio da fé", pois, "quando falta a luz, tudo se torna confuso, é impossível distinguir o bem do mal". Aqui, acrescento eu, poderia citar a advertência que Nietzsche, sete anos antes do seu colapso pessoal, fez à mulher do seu amigo Overbeck, de nome Ida, para que não abandonasse a ideia de Deus: "Eu abandonei-a, quero criar algo novo e não posso nem quero voltar atrás. Vou perecer por causa das minhas paixões, que me atiram daqui para ali; desmorono-me continuamente, mas isso nada me importa."
A fé tem o seu fundamento na experiência crente de Jesus, naquela sua experiência avassaladoramente felicitante de Deus enquanto Abbá (querido paizinho). Acreditou, entregando a sua vida até à morte a esse Deus-Amor e ao seu Reino de vida digna para todos. Os cristãos acreditam como ele e nele, que está vivo em Deus, o Deus da Vida. E procuram agir como ele, levando avante, na confiança e no combate pela vida, o Reino do Deus da vida para todos.
Penso que é pena a encíclica não começar pelo dado antropológico de base: a vida humana está desde a raiz fundada na fé, na confiança. Na presente situação, percebemo-lo perfeitamente, pois o que nos falta é precisamente fé, confiança, crédito.
Leonardo Boff também chamou a atenção para outra lacuna: não aborda com profundidade a crise de fé do homem contemporâneo, as suas dúvidas, as suas perguntas. Onde está Deus, quando um tsunami faz milhares e milhares de mortos? Como crer ainda, depois dos campos de extermínio, dos milhões de torturados e assassinados no corpo e na alma? "Crer é sempre crer apesar de... A fé não elimina as dúvidas e angústias de um Jesus que grita na cruz: "Pai, porque me abandonaste?" A fé tem que passar por este inferno e transformar-se em esperança de que para tudo há um sentido, mas escondido em Deus. Quando se revelará?"
A encíclica: "A luz da fé não dissipa todas as nossas trevas, mas, como lâmpada, guia os nossos passos na noite, e isto basta para caminhar."

9 comentários:

Anónimo disse...

AB baralha.me, agrada-me este seu texto, mas no próximo ou no anterior será capaz de dizer disparates como disse há dias comentando para o publico este enciclica, que mt provávelmente seria este Papa a dar o 1 passo no sentido da aprovacao do 'casamento' gay. Será AB um ilusionista mau caracter que tem gozo em baralhar os catolicos, situando-se naquela penumbra um pé dentro e outro fora para poder aparecer como um dos padres do regime para os media e por outro aproveitar-se dessa situaçao para seguir empurrando subtilmente a agenda fracturante onde se joga o perigoso caminho da implusao da humanidade, já nem sequer falo enquanto catolico. Espero apesar de tudo estar enganado e pensar tao só q AB apenas se limita a ser sincero ainda q lançando veneno e confusao e esperanças erradas nos meios catolicos que esperam a tal revoluçao mundana na Igreja - a Igreja do anti cristo, no sentido em que Cristo representa sair de si e esta revoluçao apenas prpoe o ' voltar-se cada um para dentro de si' e isso toda a gente sabe a q resultado leva.

Anónimo disse...

"a importância da teologia para o cristianismo. Sem teologia, a fé não é argumentável".

Aqui está a prova de que Anselmo Borges (e Bento XVI e Francisco), nas palavras do anónimo Peter é uma beata da teologia que fuma ganzas de livros poeirentos qual drogados dogmáticos empoleirados em pilhas de artigos abstractos só lidos por palhaços inseguros que acreditam que a teologia é uma ajuda para a fé e não um obstáculo para a mesma pois toda a gente sabe que só os porcos chafurdam em tais pocilgas.

Peter disse...

“Una universidad no puede ser católica si no estimula el ejercicio libre de la razón sin el cual se hace imposible llegar a la justicia y la paz social, objetivo último del quehacer universitario en la sociedad.
El principal documento eclesial sobre el tema destaca que la misión de toda universidad es la búsqueda de la verdad (Ex Corde Ecclesiae, 30). Las universidades católicas, a este respecto, no debieran invocar título privilegiado alguno. De hacerlo, atentarían contra su propia certeza teológica: la Iglesia cree que el Padre de Jesucristo es el Creador de la razón humana, razón de la que todas las personas gozan independientemente de su credo. De aquí que las universidades católicas debieran entender que, de acuerdo a la misma fe cristiana, su búsqueda de la verdad no es mejor ni peor que la de los demás, sino que se caracteriza por subrayar la necesidad del diálogo y del amor de la humanidad consigo misma, lo cual se consigue con aprecio de la diversidad cultural y sujeción a los métodos que sin daño de nadie la ciencia se da a sí misma. Las universidades cristianas, por esta razón, debieran ser espacios para aquella libertad de pensamiento que es posibilitada por una neta distinción de los planos de la fe y la razón que, paradójicamente, despeja el camino para una convergencia entre ambas. En estas universidades, los católicos no debieran pretender encontrar la verdad sin los no católicos. Se incurriría en un “pecado” en contra del Creador de unos y otros.”

Texto completo aqui:

http://blogs.periodistadigital.com/jorge-costadoat.php/2013/07/11/p337307#more337307

Peter disse...

“A fé tem o seu fundamento na experiência crente de Jesus, naquela sua experiência avassaladoramente felicitante de Deus enquanto Abbá (querido paizinho). Acreditou, entregando a sua vida até à morte a esse Deus-Amor e ao seu Reino de vida digna para todos. Os cristãos acreditam como ele e nele, que está vivo em Deus, o Deus da Vida. E procuram agir como ele, levando avante, na confiança e no combate pela vida, o Reino do Deus da vida para todos.”

È na “experiência-encontro” pessoal com Deus, é daqui que parte todo o CRER e AGIR .. alicerçado na CONFIANÇA em Deus que nos prepara para o COMBATE pela vida… Nos tempos que correm, o tempo de DISCUTIR Deus já passou (não estou a falar de BUSCAR), agora é tempo de AGIR e VIVER.. de abraçar o combate verdadeiro que está aí nas nossas ruas… (os bombeiros não ficam a discutir teorias como salvar uma casa, eles partem e agem com todas as forças que tem e os meios que possuem para salvar vidas e bens…)… esse é também o meu combate e é nesse caminho que tenho que concentrar-me e dar o meu melhor… a Igreja está em derrocada, e o que precisamos é mãos e vidas para sustentar e solidificar novamente as “paredes” esse povo de Deus que tem “como telhado o Espírito Santo”…, não de continuar eternamente a discutir os métodos e teorias para aguentar um edifício que está muito doente e perto das fronteiras da morte!

A Igreja pode contar com toda a minha vida e o melhor que sei mesmo nas minhas pobrezas e fragilidades humanas para ajudar naquilo que for necessário para que o Reino aconteça já aqui na Terra, nisso contem comigo… nunca fechei as portas nem a abandonei.. e estou disposto a dar a minha vida pelo Evangelho e por Ela... Deus é minha testemunha...

Anónimo disse...

Tudo o que escrevi são citações de comentários do Peter em threads anteriores. Dúvidas para quê acerca da sua seriedade e equilíbrio mental?

Anónimo disse...

Ahahaha... um palhaço a citar um palhaço acerca do que é uma universidade católica... é mesmo uma palhaçada...

Peter disse...

"que fuma ganzas.... qual drogados dogmáticos...... só lidos por palhaços inseguros....que só os porcos chafurdam em tais pocilgas."

Anónimo 9:56, só uma pessoa que vive mesmo mal consigo mesma será capaz de ser tão desonesta e carregada de maldades pode atribuir estas aberrações aqui escritas à minha pessoa! A boca deita fora o que o coração carrega…

Uma coisa é discordar e usar de dureza e ironias com alguns comentários, (não a sujeira que aqui escreveu) e que me atribui no insulto e faltar ao respeito humano... nunca vi pessoa tão desonesta como o anónimo. Realmente quem está aqui muito doente é o seu coração e duvido até se a sua mente não o está também.

... nem merecia que lhe respondesse a tal sombra que lhe esconde a verdade do seu coração a precisar isso sim de uma boa confissão... mas pobre confessor que o atender, vai certamente ter que ser forte e firme nas suas convicções sobre o que é o perdão verdadeiro.. que é a única coisa que lhe posso eu tb oferecer agora... de amigos de Job está o mundo cheio, que são aqueles que até tentam nos virar contra tudo e sobretudo contra o próprio Deus nas suas subtilidades cristãs tão carregadas da intenção de dolo! Shame on you.. e procure mesmo ajuda antes que seja tarde… espero que ainda não seja mesmo…

Peter disse...

Não é preciso muito para perceber e descobrir a verdade.. eis aí quem anda aqui a chamar de palhaço aos seus irmãos só porque escrevem e pensam diferente.. misericórdia Senhor, bem razão tem o meu director espiritual em pedir-me que me afaste destes diálogos com certos anónimos, que só impedem de fazer caminho na Fé... só tenho pena pela riqueza que podiam ser estes espaços e quem os oferta assim de coração aberto dedicando algo da sua vida a abrir pontes... grato Jorge...

Peter disse...

No fim do texto castellano que citei diz isto…

“Una universidad es verdaderamente católica cuando en ella la fe cristiana favorece la libertad de pensamiento y el compromiso por incluir a los excluidos o a los estigmatizados por su credo o por su vida”.

Eu acrescentaria:

Uma vida (ou uma comunidade) é verdadeiramente católica “cuando en ella la fe cristiana favorece la libertad de pensamiento y el compromiso por incluir a los excluidos o a los estigmatizados por su credo o por su vida”…

Nem mais… e este blog é o exemplo máximo da necessidade de alguns entenderem de uma vez por todas esta coisa tão simples que é (con)viver com o outro nas suas diferenças de pensar e de agir que não vão contra Deus nem o seu Reino… o resto, é apenas discussão inútil e nisso não perderei o meu tempo.. a minha vida é para ajudar a construir…

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