segunda-feira, 20 de maio de 2013

Aprender com os ateus

De vez em quando gosto de ler os ateus. Penso mesmo que é um défice do catolicismo que se pretende informado desconhecer as ideias dos que pensam diferente. E pensar diferente não é necessariamente pensar o oposto. E mesmo que seja.

Frequentemente, ler ateus, mesmo que não se concorde com eles na generalidade, é oportunidade para questionar catolicíssimos comportamentos e práticas.

Há dias dei com esta passagem de "O significado das coisas" (Gradiva), de A. C. Grayling (aquele que compilou uma "bíblia" sem Deus; ver aqui e aqui) que me leva a questionar a presença social do cristianismo, que é essencialmente missionário. Não que a ponha em causa. Nada disso. Interrogo-me é sobre o modo como é levada a cabo. Uma questão de pedagogia, portanto. Escreve Grayling:
Ao obrigar os outros a agir de acordo com as preferências deles, revelam pelo menos algumas das seguintes características: insensibilidade, intolerância, falta de amabilidade, insuficiência de imaginação, incapacidade de compreender os sentimentos alheios, ausência de compreensão, ignorância relativamente à existência de interesses e necessidades alternativos na experiência humana e arrogância na convicção de que a sua forma de ver as coisas é a única aceitável.

6 comentários:

Peter disse...

Interessante, encontrei também isto agora que também ando a ler Ricouer:

“Fez alusão aos que não professam qualquer religião. Creio que temos necessidade igualmente da palavra da Aufklärung. E a grande oportunidade do cristianismo é de ter sido confrontado desde o início, graças à Grécia e a toda a herança do racionalismo, com esse conflito do que chamei o conflito da convicção e da crítica. É na medida em que nós levamos este combate no interior da convicção e com o apoio do exterior e do exterior de toda a religião, que temos necessidade do ateu, para nos compreendermos, nós crentes e para compreender os outros crentes que professam outras crenças que não a nossa.” (Paul Ricoeur)
(Diálogo entre Hans Küng e Paul Ricoeur)

Anónimo disse...

A cristandade, foi confrontada com intolerâncias variadas no seu seio. Recomendo a reflexão, acerca dos modos "tolerantes" de Cromwell, Calvino, revolucionários americanos e franceses. E cá em Portugal, refiro apenas a "tolerância" jansenista de Pombal e a dos maçons novecentistas proto-republicanos. A intolerância, nomeadamente, a de católicos, a meu ver, teve a sua fonte não na doutrina católica, mas sim, noutras posturas culturais civilizacionais(político-económicas, principalmente). Afirmo peremptoriamente, que as maiores intolerâncias, provêm de posturas políticas revolucionárias. Isto é o que a história me tem dado a ponderar. As sociedades com maior progresso são as que reformam, não, as que revolucionam.Estive recentemente, na socialista Noruega e fiquei impressionado com o "tradicionalismo" que emana daquela sociedade viking. Aqui em Portugal, de identidade não vejo quase nada, porque a sociedade nacional, tem sido expurgada continuamente dos seus valores identitários. Desde o déspota iluminado, conhecido por marquês de Pombal, que a tolerância dos portugueses tem estado num plano acentuadamente inclinado.Espero provocar com este comentário, alguma reflexão urgente, pois a crise deste país e da sua Igreja, têm também muito a ver com estas questões.Saudações!

Anónimo disse...

Concordo com o caro anónimo. O Catolicismo tem uma longa história de infeções e compromissos com ordens mundanas que nunca deveriam ter ocorrido. Como resultado só tem a "má fama" que os católicos atuais bem tentam remediar.

Mais: não terá a Igreja também sido, ou segundo alguns deveria ser, expurgada dos seus valores identitários? E num mundo globalizado, não farão esses valores mais falta ainda para a sua missão evangelizadora?

Anónimo disse...

Creio que é uma excessiva generalização dizer que os pensadores cristãos não dialogam com ateus. Ou refere-se ao comum dos cristãos? Mas eles nem lêem pensadores cristãos e os que lêem são da estirpe do "fraco, fraquinho" como os livros do Tolentino Mendonça.

Peter disse...

Creio que existe logo de inicio uma abordagem equivocada ao tema, sobretudo porque ela está ainda muito carregada de deficiências de compreensão da realidade concreta, (falo da sociedade portuguesa) e que no fundo não difere muito da realidade europeia! A verdade é que não podemos falar de um ateísmo puro e duro, mas mais de uma espécie de “monoteísmo de valores” que tem como objectivo a autonomia do sujeito a partir de novos valores que os indivíduos vão construindo como sagrados para si mesmos e onde predomina muito a individualização de posições que de facto acabam por desmontar e fragilizar as estruturas que até aqui se movimentavam no seguidismo do decidido pelas oficialidades!

Eu penso que aquilo que existe na realidade actual é uma postura de dúvida do conteúdo religioso, que acaba por gerar um caminho do “probabilismo” ou “possibilismo” e que não´é um sim nem um não à existência de Deus, mas DÚVIDAS que em muitos casos nascem de situações concretas que geraram desconfiança com as Igrejas, sobretudo aquelas que apontam ainda muito para um Deus carregado de autoridade e inflexibilidades! Por outro lado, também poderíamos falar dos choques entre as “éticas oficiais” e as que vão nascendo-surgindo a partir dos novos olhares e novas compreensões sobre as sociedades que se vão mutando a uma velocidade imparável e global, e que a Igreja tem tido muita dificuldade em acompanhar…!

Anónimo disse...

Tenho pena por Portugal ser um país em que o academismo, formata com tão pouca diversidade. Em Portugal, os "clássicos" são sempre os mesmos. Quem conheça, Évora, Lisboa, Coimbra, Porto e Braga, sabe que é assim! Nestes meios, nunca há surpresas. A vulgaridade é um facto! Fiz um árido percurso académico, de 12 anos.Ainda hoje, não parei de me tentar "afinar".Sempre achei curiosa, a presumida pertinência dos académicos!Os líderes em Portugal, têm uma tarefa fácil. Os indígenas, são fáceis de convencer!

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