sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sobre o neoneoneotomismo que domina algum ensino teológico



Réginald Garrigou-Lagrange foi um teólogo francês medieval em pleno século XX. Morreu em 1964, em Roma. Dominicano, dava aulas no Angelicum. Grande teólogo, mas sem escrever qualquer tratado ou ensaio. Fez comentários, como em geral os teólogos dos séculos anteriores, desde a Idade Média. E talvez não se importasse de participar numa disputatio. Aliás, nem sei se não participou.

Garrigou-Lagrange comentou quase toda a Suma teológica, coisa que poucos fizeram, e terá sido um dos últimos a levar a cabo tal empreendimento.

Sabemos agora que ele estava à frente do seu tempo, embora fosse tido por alguns como um fóssil teológico. É que o comentário a Tomás de Aquino regressou com força. Diz-se que não é preciso mais teologia do que a do dominicano do séc. XIII. Pululam por aí teólogos novinhos que mais não fazem do que ler Aquino,mas não todo, e, ainda mais, comentários de Tomás de Aquino. Teologia requentada, pois, e quanto mais indiferente à vida concreta, melhor.

Se os medievais também faziam teologia comentando, pois concebiam-se como anões ao ombro de gigantes (diz João de Salisbúria que Bernardo de Chartres dissera isto), estes teólogos de hoje são anões, ainda que rechonchudos, nalguns casos, e mesmo apreciadores de rock, ao ombro de anões ao ombro de gigantes. Temo que tantas camadas humanas acabe por dar origem a um estrondoso tombo.

12 comentários:

Anónimo disse...


E qual é o mal do rock?

E qual é o problema de ser rechonchudo?

Avalia-se as pels gostos e pela aparência? É melhor ser careca?

Rui Jardim

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Rui,

mal no rock já escreveu Ratzinger que há muito. Mas eu gosto muito de rock, pop, grunge, lo-fi e etc.

Mas convenhamos que um apreciador de rock teologicamente tradicionalista é coisa que não combina lá muito bem. Mas não tenho nada contra, claro. Cada um que viva bem com as suas idiossincrasias.

Quanto ao rechonchudo, com todo o respeito por quem é gordo e mesmo obeso (estou a pensar em familiares - e eu também corro esse risco) penso sinceramente que é um contra testemunho teólogos cristãos serem epicuristas quando se trata de mesa (outros serão gordos por não terem regras alimentares e comerem do que lhes dão, quando lhes dão). Conheço alguns claramente hedonistas à mesa. Só não são é teólogos dignos de nome.

Quanto a ser careca, é o meu caso.

De resto, o mal não está no rock e no rechonchudo, acidentes. O mal está na substância. Pense lá qual é.

Anónimo disse...


Caro Rui, em primeiro lugar, o Papa Bento XVI não falou contra o rock-falou contra o rock na missa. Eu amo o rock e detesto rock nas igreja, veja só. De resto, desde que o Dylan cantou para João Paulo II que o rock se tornou uma cena romana.

Quanto ao epicurismo, até posso perceber, mas não estaremos a ser mais pequeninos ainda ao observar dieta alheia?

Saudações, Rui Jardim

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Rui (sou Jorge),

eu não falei de Bento XVI, falei de Ratzinger e do rock em geral, não na liturgia.

Ratzinger detesta-o em geral e deixou-o bem claro. Acha que é sintoma de decadência, de perda de valores, de hedonismo... Só não sei se disse que era diabólico, como alguns, incluindo teólogos, já disseram, não em relação a este ou aquele cantor, mas em relação ao rock em geral.

Se encontrar o texto de Ratzinger, dou-lhe. Mas tenho a certeza do que li.

Foi Ratzinger. Não Bento 16.

Em relação à dieta, perguntou-me qual o problema em ser rechonchudo. Não sei se pensa em alguém em particular. Respondi que pode ser problema se o deus estiver na barriga. Alguns também o têm na barriga e são magros.

Mas quer com um caso (gordos) quer com o outro (magros, bulímicos e anoréticos), de facto não tenho nada a ver. Pelo que não falo mais disto.

Jorge Pires Ferreira disse...

Não foi isto que li, mas vai na mesma linha:

Cardeal Ratzinger ataca música rock
Publicado a 12 FEV 01 às 00:00


O cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, atacou severamente a música rock e pop e manifestou reservas em relação ópera, num ensaio consagrado à liturgia divulgado hoje em Itália.
O prelado, encarregado oficialmente de guardar a pureza da doutrina, descreve o rock como «expressão de paixões elementares que, nos grandes concertos musicais, assumiu carácter de culto, ou melhor de contra-culto que se opõe ao culto cristão».
Acusa o rock de querer falsamente «libertar o homem por um fenómeno de massa, perturbando os espíritos pelo ritmo, o barulho e os efeitos luminosos».
Quanto à música pop, «ela já não é mais apoiada pelo povo». «Trata-se na minha opinião, de um fenómeno de massa, de uma música produzida com métodos e a uma escala industrial e que se pode qualificar desde já de culto da banalidade», afirma.
O prelado acusa ainda a música de ópera de ter «corroído o sagrado» no século passado e cita a esse propósito o papa Pio X que, no início do século, «tentou afastar a música de ópera da liturgia».

http://www.tsf.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=855559

é de 2001.

Anónimo disse...

Ena! o Rui anda agitado por estas bandas... será outro demofilico?

Anónimo disse...

«diz João de Salisbúria que Bernardo de Chartres dissera isto». Onde, onde? E como chegou aqui? Conheço isso do "Nome da Rosa", mas sem atribuição. Obrigado.

Anónimo disse...

Tenho para ler um livrinho com o título: "Confissão por Mozart", que contém três pequenos artigos escritos por Hans Urs Von Balthasar, Karl Barth e Bento XVI.

Segundo parece, Bento XVI é,(tal como eu), um admirador profundo da obra de Mozart. Resta saber se gosta da vertente operística do compositor, até porque a "Flauta Mágica" tem alusões mais ou menos explícitas à maçonaria.

Enfim, só depois de ler é que se saberá.

Quanto à vertente "malévola" da música rock, concordo com Ratzinger, mas separo as águas. Há boa música rock.

Situarei nos anos 70 a fase mais criativa deste género musical com bandas como os Genesis, Yes, King Crimson, Van Der Graaf Generator, Camel, Emerson Lake & Palmer, Triunvirat, Jethro Tull, Renaissance, The Enid, Pink Floyd Frank Zappa, (com algumas reservas quanto às letras), etc, etc, etc...

Abomino o chamado Black Metal e toda essa cáfila de bandas com uma posição desconstrutiva e niilista, insultuosa e agressiva, quer musicalmente, quer liricamente.

Manuel Martins

J. Duque disse...

Jorge: Há que distinguir várias «modalidades» de Tomismo.

Jacques Maritain, por exemplo, foi tomista até ao fim da sua vida (desde a sua conversão ao Catolicismo) e sempre foi mal visto pelos «integristas», isto pelo menos desde que escreveu «Humanisme intégrale», em 1936, onde preconizou muitas ideias da Democracia Cristã pós-1945 e denunciou a tentação «fascista» (ou autoritária, vá lá) de muitos sectores católicos dos anos 30.

Anónimo disse...

Bolas, Manuel, que mau gosto! E nada de Dylan, Velvet Udenground, Beatles, Talking Heads, The Go Betweens, The Sound, The Clash, The Smiths, Sonic Youth, Radiohead, The Strokes?

Rui Jardim

Anónimo disse...

Olá Luís Jardim, não conheço os The Go Betweens, mas gosto muito dos Beatles.

Belas melodias, bem tocadas por
uns rapazes na flor da idade com uma composição imaginativa e bem
estribada nas melotopeias da graça e do vinho do porto.

Aqui na minha terra, a Nazaré, os pescadores quando vão para o mar levam sempre um disquinho dos beatles para ouvir no cantante e para atrair os golfinhos, essas sereias da esperança que nos enlevam para as alturas da viola.

Manuel Martins

Anónimo disse...

Pobre homem, agora tenta o humor... Vou parar: começa a ser confrangedor.

Rui Jardim

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...