quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O que interessa a todos


Já aqui escrevi que penso que deveria haver um limite de idade para o Papa renunciar. Poderia ser mais do que o dos bispos diocesanos (75), porque Pedro é o “primeiro entre pares”, mas talvez pudesse ser igual à idade de um cardeal para participar num conclave (80). Sendo realista, penso que a ideia não avançará. Pelo menos a médio prazo. Quando alguém a expressa – não sou o único –, o primeiro motivo que apontam para a sua não concretização é o dos jogos de bastidores, de influências, a que os cardeais cederiam ao verem chegar o fim de determinado pontificado.

Registo isto porque quem recusa uma limitação do poder papal no tempo defende também que o que interessa é que o Papa seja santo, que a Igreja não é uma democracia, uma república ou uma empresa, e que o Papa é, em última análise, uma escolha do Espírito Santo. 

Mas o motivo que dão para não haver limites temporais no pontificado é precisamente o que acontece quando um pontificado termina por morte ou renúncia do papa: perguntar qual será o melhor para comandar a barca de Cristo. Faz-se imprevistamente (quando um Papa morre ou abdica) o que poderia ser feito com mais esclarecimento. Não seria mais aberto, transparente, comunitário, eclesial, mesmo, porque na escolha do papa não é nem em segundo ou terceiro lugar a santidade que interessa, saber-se que um pontificado está a terminar e que o que interessa a todos deve ser decidido por todos, mesmo que só se converse?

11 comentários:

PVG disse...

Pergunto-me sobre o sentido da frase: «porque na escolha do papa não é nem em segundo ou terceiro lugar a santidade que interessa». Pergunto-me porque me faz questionar sobre a definição de santidade. Parece-me que bem enquadrada nos evangelhos, essa é precisamente a característica que mais interessa na escolha de um Papa (como na orientação de vida de qualquer cristão).

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Pedro, talvez em terceiro lugar, sim, depois de forte e jovem, como nesta notícia do La Repubblica retomada pelo Diário Económico:

O diário italiano ‘La Repubblica' noticia hoje que na base da renúncia de Bento XVI estará um relatório sobre a corrupção na Igreja.

No passado dia 17 de Dezembro, Bento XVI terá recebido um "relatório demolidor" de 300 páginas, elaborado por três dos mais experientes cardeais do Vaticano, relativamente à investigação sobre os documentos roubados da residência do Sumo Pontífice, adianta a edição de hoje do ‘La Repubblica'.

Segundo o jornal, o documento diria que poderão ser revelados muitos escândalos sobre as lutas de poder dentro da Cúria romana, desvios de dinheiro e a verdadeira força do poder do ‘lobby gay' na Igreja, informações que seriam tão "demolidoras" que convenceram o Papa a decidir que o melhor caminho a seguir seria o de deixar o cargo, de modo a permitir que um Pontífice mais novo e enérgico tome o poder no Vaticano e leve a cabo uma "limpeza profunda" da Igreja.

"Tudo gira em torno da observação do sexto e sétimo mandamentos: não cometerás actos impuros e não roubarás", disse ao periódico uma fonte "muito próxima" dos autores do relatório.

O ‘La Repubblica' recorda um escândalo que estalou em 2010, quando foi descoberto que um membro do coro da Capela Musical da Basílica Papal de São Pedro no Vaticano, o nigeriano Chinedu Eheim, oferecia serviços sexuais com menores, incluindo seminaristas, e que estes tinham lugar tanto em Roma como dentro das paredes do próprio Vaticano.

"Existe uma rede transversal unida pela orientação sexual. Pela primeira vez, a palavra ‘homossexualidade' foi pronunciada e lida em voz alta a partir de um texto no apartamento de Ratzinger. E pela primeira vez foi falado, embora em Latim, sobre a palavra ‘chantagem' (‘Influentiam')", lê-se no texto do jornal, que cita as revelações que os cardeais teriam feito ao Papa durante a apresentação secreta das suas conclusões finais.

Como consequência, prossegue o ‘La Repubblica', Bento XVI decidiu demitir-se, afirmando que "este relatório deve ser entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera".

Jorge Pires Ferreira disse...

O link de onde a tirei

http://economico.sapo.pt/noticias/la-repubblica-associa-resignacao-papal-a-relatorio-demolidor_163166.html

PVG disse...

Precisamente por tudo isto, creio que seria o «santo» em primeiro lugar. O santo, que implica a energia capaz de desconstruir os lobbies e os interesses instalados e orientar a comunidade, com o vigor da santidade (e da juventude também), para o «interesse de todos». Mas é possível que estejamos a dizer o mesmo, usando terminologias diferentes.

Jorge Pires Ferreira disse...

Sim, Pedro Gomes. Concordo com tudo o que acabou de escrever.

Anónimo disse...

Decidido por todos. Lindo. E o Jorge ia correr mundo fora perguntar a todos os católicos quem é que eles queriam para Papa? Ou afinal já não seriam todos, mas apenas alguns? E que alguns? Os que estariam de acordo consigo?

Jorge Pires Ferreira disse...

Eu não disse que todos votam. Disse e mantenho que todos podemos participar na decisão. Como? Falando da questão, partilhando, dizendo com que Igreja sonhamos, rezando. Ou acha que o Espírito Santo só atua pelos 116 cardeais (eram 117, mas parece que um já não vai). Fraquinha a sua teologia que considera, parece-me, que o Espírito Santo só fala pelo voto dos cardeais. Delegue tudo em alguns e depois é o que se vê. Também se pode chamar a isso irresponsabilidade.

Anónimo disse...

Olha. É exactamente isso que eu, pobre leigo, já faço. O Jorge não o faz? Fraquinha a sua percepção do que é a vida dos demais. E mais fraquinha ainda a ideia de que a Igreja tem que mudar para ser o que já é.

Anónimo disse...

Hoje na RTP1, no telejornal da hora do almoço, uma jornalista chamada Rosário Salgado disse que tinha obtido informações junto da Opus Deis e da "maçonaria católica". Alguém me sabe dizer o que é esta última? Obrigado.

Anónimo disse...

Agora que já se sabe que Carlos Azevedo é homossexual, talvez se comece a deitar os olhos a outros homossexuais que na área da cultura católica subiram ao Olimpo à custa de muitas sevícias homossexuais aceites e dadas. Mais não digo.

Jorge Pires Ferreira disse...

Anónimo das 6:36,

se a sua Igreja não precisa de mudar, de se reformar continuamente, de se converter... se como é é que é e está bem, não vivemos na mesma Igreja. Eu, por mim, ainda estou do lado de cá da Igreja. O anónimo, sem nome nem rosto, deve ser algum anjo, não? Saudações etéreas.

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