segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ano da Fé. Ter fé na fé

3.
Há um submundo de pessoas que têm fé na fé sem terem fé. Escrevem nos jornais sobre Bento XVI sem serem católicos, defendem o Papa, realçam a importância social do cristianismo, participam em debates e diálogos com crentes, não para esgrimir argumentos sobre o crer mas para encontrar pontes de diálogo. São pela presença da religião no espaço público. São capazes de defender a Igreja católica, nos meios laicos a que têm acesso, com base na “missão histórica e social” da Igreja. E porque feito pela Igreja fica mais barato. Têm fé na fé.

Geralmente os ministros da Igreja Católica gostam de ouvir estes que não sendo propriamente católicos, têm fé na fé. Fazem o jogo do lado de cá. Não são os ateus ou agnósticos puros. Nem ateus inveterados, nem agnósticos retintos. São antes uma espécie de, como alguém lhes chamou, “patos mancos”. Sou simpático para eles. Conheço dois ou três. Mas não gosto de ter fé na fé sem ter fé.

6 comentários:

Peter disse...

Os jovens que acompanhei durante alguns anos na caminhada da Fé, quando abordávamos esse tema, arranjaram-lhes um nome, chamavam-lhes os “fézadas”…!

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Peter, conheço o termo, mas não me parece que "fezada" corresponda bem aos intelectuais a que me refiro. Pelo menos, no meu contexto, "fezada" aplica-se mais às fés explicitamente católicas mas incoerentes.

Helena V. disse...

Tenho alguma dificuldade em me pronunciar tão categoricamente a este respeito, Jorge e Peter. Percebo o que está em questão, mas como "ter fé" (a terceira acepção, na expressão "ter fé na fé sem ter fé")é algo muito mais complexo do que qualquer uma das outras ("ter fé na fé"), e - por muito que nos custe a conceber - não tem "lado" (senão o que lhe assinalamos, e que é sempre "o nosso"!), receio cair na arrogância que, essa sim, é falta de fé (ainda na terceira acepção): a fé na vida, nos dinamismos humanos individuais e sociais, num Deus vivo que abraça a nossa história, também individual e colectiva.
Mas sim, sei tipificar o que seja "fézada" e "fé explicitamente católica e incoerente". Reconheço-o em mim. Por vezes... Muitas vezes... Mas, depois, lembro-me do episódio da "mulher hemorrágica", de como Jesus a "sentiu" a partir daquele toque movido pelo que chamaríamos 'superstição', de como a "fé" a salvou... E pronto: já não me preocupo tanto :-) É esta a humanidade que Deus ama.
Mas é claro que tenho dias em que a leitura que faço não é tão benovolente. E caio na "fé explicitamente católica mas incoerente"? Ou, quando serei eu coerente?
Cumprimento os dois.

Peter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peter disse...

Amigo Jorge, de facto não é de todo “aplicável” pelo menos num espectro mais alargado esse termo dos “fézadas” aos elementos que apontou... mas entre um grupo e o outro não sei não.. “que venha o diabo e escolha”..! Afinal qual desses grupos estará a embrulhar com o laço mais bem feito o pacote com que muitos transformaram a vida da Fé de forma a oferecerem-se a si mesmos e aos mais incautos ou fragilizados…!


Cara Helena – alguém disse que quando passamos a entender o que é Fé deixamos de ter Fé genuína.”..! Achei na altura um pouco exagerado, mas… e depois o nosso Jorge não nos “facilita” nada a vida…! Mas olhe que estou consigo na sua linha de pensar a Fé acredite… isso de dizer-se que carregamos Fé sem acolher a nossa humanidade e a dos outros abraçando-a com todas as suas consequências inevitáveis à nossa condição humana de pecadores é a mesma coisa que crer e acolher em nós um Jesus que jamais Encarnou!


Mas sim, a última palavra é sempre a do AMOR… quando não o vejo muito claro no meu caminho... ou para onde me tentam levar, lá vou eu novamente mergulhar naquele belo Hino ao Amor (ICor.13)… ajuda-me muito a depurar o meu coração e sobretudo o caminho da Fé… o resto, deixo com Deus… sem cair em dependências mas na confiança que onde eu não posso, Ele ali está..!

Peter disse...

E cara Helena… quando digo: (onde eu não posso, Ele ali está…).. carrega também significados desse barro que ainda existe muito mim… essa coisa dos “laços” ai Senhor… não há quem possa escapar… (bom lá vou eu apanhar outra vez..) mas é verdade… uns podem é ser mais pequenos.. outros maiores.. uns mais bem feitos.. outros mais desajeitados.. mas olhe que todos temos os nossas “laços”… vamos lá a ser honestos… isto de olhar para o lado e só ver o outro que passa no caminho é obra… todos nós em determinados momentos da nossa caminhada da Fé também saltamos por cima das tais coerências… vá, não me digam que não…!


…aí está a nossa humanidade…vê cara Helena, todos caímos… perceber e ver isso não é difícil, acolher é que… bom…! Por alguma razão precisamos todos do perdão e da misericórdia que só Deus sabe dar…!


Cumprimentos aos dois tb…

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