terça-feira, 16 de outubro de 2012

Concílio contra a musealização da Igreja


Vaticano II. 50 anos, 50 olhares
Darlei Zanon (organizador)
Paulus
240 páginas

No domingo, Bento Domingues referia no "Público" as memórias de D. Manuel de Almeida Trindade sobre a fraca preparação dos bispos portugueses no Vaticano II (aqui).

Do livro "Vaticano II. 50 anos, 50 olhares", reproduzo o que Aura Miguel escreveu nas páginas 193-194 sobre o mesmo bispo, que foi para o concílio ainda antes de ser ordenado bispo e que, fica a nota, é o autor da entrada "Bispo" da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (Verbo). 
Era um homem muito inteligente e sereno, interessado e atento e, sobretudo, dotado de grande humanidade. Ficou para a história a sua notável ação e firmeza como bispo, ao defender a Igreja em tempos conturbados (nomeadamente após o 25 de abril de 1974) e também como presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. 
Quando o vi pela primeira vez em Fátima, reconheci-o logo (porque era uma referência importante e aparecia na comunicação social...), mas fiquei pasmada com a sua simplicidade e o modo como passou a tratar esta (então) “jovem caloira” jornalista. Desviava sempre o seu percurso para me vir falar e - cheio de paternidade - perguntar por mim e pela minha vida. Às vezes, sentava-se um bocado a conversar, o que era sempre uma experiência extraordinária - ora chamava a minha atenção para a beleza da luz do entardecer em Fátima, ora se interessava pelo livro que eu estava a ler e, com frequência, contava episódios do Concílio Vaticano II... Gostava de sublinhar o clima de liberdade em que os trabalhos se desenrolaram desde o início e dava vários exemplos em como essa liberdade se exprimiu nas intervenções dos padres conciliares, mesmo quando tomaram rumo diferente do inicialmente previsto. Outra das recordações foi vivida logo no primeiro dia do Concílio, a 11 de outubro de 1962. D. Manuel Trindade juntou-se aos cerca de 2200 participantes numa longa fila para poder entrar solenemente na Basílica de São Pedro. Só que, para organizar este mega cortejo, tiveram todos de entrar pelas portas dos museus. Então, este bispo português, viu-se dentro daquele espaço, com enormes corredores, rodeados de milhares de obras de arte, muitas delas milenares e arcaicas, peças mudas do passado... e a sua sensação foi meio estranha, porque - concluía ele sorridente – também a Igreja é milenar mas ali estava patente que a Igreja não queria ser objeto de museu, porque aquela multiplicidade fascinante de milhares de bispos, cardeais e patriarcas dos quatro cantos do mundo caminhavam para dar início a um grande acontecimento.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pessoa notável, com uma memória fenomenal... lamentavelmente, pelo que sei, o seu sucessor é bem menos bispo...

Fernando d'Costa

Anónimo disse...

Qual sucessor? António Marcelino ou António Santos?

Anónimo disse...

António Santos, não?

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...