Durante muito tempo levantei-me cedo, para ir à missa, antes
da escola, do escritório, das aulas na universidade. Assim poderia começar este
livro, talvez acrescentando o fácil calembour de que se trata de uma «busca do
tempo perdido». Mas poderei autorizar-me não diria já ao calembour mas ao discurso
na primeira pessoa? Dou-me conta de que nunca escrevi assim, a não ser quando
se tratava de discussões, polémicas, cartas ao diretor. Nunca nos ensaios e nos
textos de carácter «profissional», crítico ou filosófico. Aqui a questão
coloca-se porque as páginas que se seguem retomam os temas de uma longa
entrevista a dois, juntamente com Sergio Quinzio, feita o ano passado para "La
Stampa" por Claudio Altarocca, em que se falava na primeira pessoa, e ainda
porque o tema da religião e da fé parece requerer uma escrita necessariamente «pessoal»
e comprometida; embora ela não seja essencialmente narrativa e talvez não tenha
sempre muito claramente como referência um narrante-crente.
Gianni Vattimo, "Acreditar em acreditar", ed. Relógio d’Água, 1998
(original de 1995), pág. 7.
1 comentário:
Pois eu, durante muito tempo, levantei-me tarde para não ir à missa e espero não voltar a fazer isso.
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