quinta-feira, 17 de maio de 2012

Muito o abandonaram porque nunca o conheceram

Giovanni Papini

Dizem que Cristo é o profeta dos fracos e, afinal, veio dar força aos definhados e tornar os espezinhados mais altos que os reis. Dizem que a sua religião é de doentes e moribundos e Ele cura enfermos e ressuscita inanimados. Dizem que Ele é contra a vida, mas vence a morte. Que é o Deus da tristeza, quando afinal exorta os seus a serem alegres e promete um eterno banquete de júbilo aos seus amigos. Dizem que introduziu no mundo a tristeza e a mortificação, e, afinal, quando era vivo, comia e bebia, deixava que lhe perfumassem os pés e os cabelos e detestava os jejuns hipócritas e as penitências vaidosas. Muito o abandonaram porque nunca o conheceram. A esses, especialmente, é que este livro desejaria ser útil.


Giovanni Papini, "História de Cristo", ed. Livros do Brasil, pág. 23.

1 comentário:

J. Duque disse...

Papini foi um imenso escritor, quer antes da sua conversão ao Catolicismo, quer na sua etapa anterior, “iconoclasta” e nietzschiana. Foi muito apreciado por Jorge Luis Borges, que o incluiu numa antologia dedicada à Literatura fantástica
Na adolescência, li quase todos os seus livros traduzidos em português: “História de risto”, “Gog”, “O libro Negro - Novo Diário de Gog”, “Vigia do Mundo”, “O Diabo”… Era senhor de um estilo vivo, animado, cheio de metáforas e por vezes de exageros retóricos, mas sempre contundente e másculo, sem caír no “delico-doce” de muitos autores ditos crentes.
É um autor a ser redescoberto quer por católicos, quer por não-católicos, independente dos seus “erros políticos” (foram , digamos assim, de extrema-direita - se tivessem sido de extrema - esquerda, a tolerância da posteridade teria sido muito maior…)

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