sábado, 7 de abril de 2012

As sete distorções de Queiruga

A "Notificación sobre algunas obras del Prof. Andrés Torres Queiruga", da Comissão para a Doutrina da Fé da Conferência Episcopal Espanhola, com data de 29 de fevereiro e divulgada no dia 29 de março, pode ser lida aqui.

No final do documento, a Comissão deixa em síntese os elementos da fé da Igreja que são distorcidos nos escritos do teólogo galego. São sete, sobre a Revelação, as Religiões, a Ressurreição e a Oração. Aqui ficam, embora valha a pena ler o documento todo:

1. Clara distinção entre o mundo e o Criador, e a possibilidade de que Deus intervenha na história e no mundo para além das leis que Ele mesmo estabeleceu.  
2. A novidade da vida no Espírito que Cristo nos dá, com a consequente distinção entre natureza e graça, entre criação e salvação. Assim como a necessidade da graça sobrenatural para alcáçar o fim último do ser humano. 
3. O carácter não dedutível da Revelação, mediante a qual Deus deu a conhecer ao ser humano o seu desígnio salvífico, escolhendo um povo e enviando o seu Filho ao mundo. 
4. A unicidade e a universalidade da Mediação salvífica de Cristo e da Igreja. 
5. O realismo da ressurreição de Jesus Cristo enquanto acontecimento histórico (milagroso) e transcendente. 
6. O sentido genuíno da oração de petição, assim como o valor da intercessão e mediação da Igreja na sua oração pelos defuntos, especialmente na Eucaristia. 
7. A distinção real entre o momento da morte pessoa e o da Parusia, entendida esta como culminar e plenitude da História e do mundo.

Devo dizer que não conheço suficientemente o pensamento do teólogo galego (li um livrinho sobre a democracia na Igreja e outro sobre a esperança, sem ter chegado à terceira parte, sobre a realização da esperança a partir da ressurreição), embora me reveja no que ele afirma sobre os milagres e sobre o diálogo inter-religioso.

Sobre a ressurreição, tenho dúvidas quanto ao papel do corpo na ressurreição de Cristo (resume-se nisto: uns teólogos dizem que se se encontrasse o corpo de Jesus, a sua ressurreição estaria em causa; outros dizem que mesmo que se encontre o corpo, não está em causa a ressurreição) e tendo a distanciar-me de Queiruga (o "túmulo vazio", não sendo condição suficiente, é necessária e aponta nesse sentido).


Parece-me, contudo, que a dissonância entre teólogo e magistério, em certos aspetos, é mais semântica do que teológica – a julgar pelos dados apresentados. Queiruga diz que a ressurreição de Jesus Cristo não se pode considerar um acontecimento histórico, mas é real. O Catecismo diz que é um acontecimento “histórico e transcendente”. O que entendem por história, transcendência, realidade, facto e acontecimento, corpo e alma (o que a Notificação diz no n.º 23 sobre a alma e o “complemento do seu corpo” é antropologicamente indefensável e nada bíblico)? Aí reside o que se pode dizer e o que se deve calar sobre a ressurreição. Assunto em aberto.

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