Escreve Ferreira Fernandes, um dos cardeais da crónica em Portugal (no DN de hoje):
Cardeal nega-me função essencial
Não vou dizer que expulsando o que é natural nos cardeais ele volta a galope: acredito que o que disse o novo cardeal português, Manuel de Castro, foi só dele. E não vou retirar ao cardeal a legitimidade de se pronunciar sobre educação dos filhos lá porque não os faz: admito que um olhar de fora possa ser mais atento. Portanto, com o tal cardeal não generalizo, nem o excluo do direito de opinião. Dito isto, engalinhei por ele ter dito que "a mulher deve poder ficar em casa ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos". Na verdade, não engalinhei, senti a crista encrespar-se! Senti a minha função essencial de pai educador diminuída. Que é isso de que cabe mais e melhor a elas educar?! Parir, de acordo; mas a educar peço meças. Acordei noites para sussurrar acalmias a choros. Admoestei muito cedo a falta de dizer bom-dia a vizinhos. Mergulhei junto para acabar com medos. Forcei-me a decorar poemas só para a acompanhar. Soube fazê-la sentir que ela estava comigo, mesmo quando estávamos longe um do outro... É certo que não fiquei em casa nem trabalhei menos para a educar, não pude, é a vida. Mas apliquei-me na minha função essencial de pai educador. E a prova é que dei à minha filha ensinamento útil: "És cidadã a parte inteira, mas, nunca esqueças, nada está garantido para sempre." Preveni-a contra si, cardeal.
Não me parece que o novo cardeal lhe negue qualquer função essencial. Apenas realça que deveria haver outra possibilidade para as mulheres. "A mulher deve poder ficar em casa ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos", diz o cardeal.
O cronista revela, quanto a mim, e já não é a primeira vez, o seu anticlericalismo. Quando fala alguém da igreja desperta logo um anticomunismo mental em certas pessoas, desta vez Ferreira Fernandes incluído. Esse anticomunismo mental faz pensar que o que uma pessoa diz em relação a uma parte da realidade exclui que se pense isso mesmo da outra parte. Ele falou das mulheres na educação dos filhos? Logo é machista. Se aumenta de um lado, diminui do outro, daí o anticomunismo.
Acrescento que o cardeal poderia dizer algo do género para os homens. Mas de facto não é a mesma coisa. As mães são muito mais importantes para os recém-nascidos do que os pais. E não tem nada a ver com a dedicação dos pais-homens. Claro que os pais também poderiam ter a vida facilitada para apoiar os filhos. Mas crucial mesmo é o apoio das mães - o que já está contemplado na legislação de diversos países do norte da Europa.
Lembro que em Portugal, um homem tem de tirar 10 dias úteis de licença (e pode tirar mais 30 dias em que a mulher tem de trabalhar), enquanto a mulher tem direito a 120 dias recebendo 100 % ou 150 dias ganhando 80%. A estes 150 dias pode acrescentar três meses, ganhando 25% (é sempre a Segurança Social que paga). Ou seja, numa família que decida apoiar com o máximo de tempo os filhos recém-nascidos, a mãe dispõe apenas de oito meses (nos últimos três vendo o ordenado diminuído em 75%). Numa outra possibilidade, também o pai pode estar três meses a receber 25 %, fazendo com que o tempo máximo de apoio suba para os 11 meses. Continua a ser pouco. Em exclusivo para as mulheres (porque é mais importante) ou partilhada com os homens (enquanto possibilidade, é melhor), a licença de maternidade/paternidade devia chegar aos dois anos, pelo menos. As mães suecas têm 480 dias para usar até aos 8 anos dos filhos.
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2 comentários:
completamente em desacordo com esta sua opinião, Jorge.
Aliás, acaba por dar razão ao FF, quando assaca com a principal responsabilidade no cuidado e educação dos filhos, para a mulher.
E ainda voltando às declarações do novel cardeal, elas são bem claras quando diz que a mulher deve estar repousada (ficou todo o dia em casa a cuidar da mesma e dos filhos e não fez nada)para escutar o marido quando ele chega esgotado do trabalho. É para rir, não?
São de ir às lágrimas as declarações do novo cardeal acerca dos deveres das mulheres. Este senhor parou no tempo. A crise de valores, a crise da família, não se devem ao facto de as mulheres estarem a trabalhar (nos seus empregos, porque em casa muitas ainda são escravas desvalorizadas pelos maridos). Aliás, com que direito se outorga o direito de falar dos valores da família quem decidiu não constituir família? Já não há pachorra!
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