6. Tagle para Manila
Assim como Milão na Itália, Manila nas Filipinas é mais uma
daquelas megadioceses cujo líder se torna automaticamente um ponto de
referência global e geralmente atrai pelo menos um olhar enquanto concorrente
papal. Só isso já tornaria importante a nomeação do arcebispo D. Luis Antonio
Tagle, 54 anos, no dia 13 de outubro. Tagle é conhecido como um talentoso
teólogo, uma personalidade extremamente não clerical, um bom ouvinte e alguém
totalmente desinteressado pela construção de impérios eclesiais – não muito diferente da reputação de Joseph
Ratzinger antes se eleito. Com a tenra idade de 54 anos, está posicionado para
ser durante um bom tempo um grande rosto e voz do catolicismo asiático.
7. A proeza de quatro
volumes de Bento XVI
Bento XVI é um papa ensinante, um ponto que ficou muito
claro nas suas 22 viagens ao exterior. Os observadores sabem que o grande
momento de cada viagem provavelmente ocorrerá num discurso para o "mundo
da cultura", com dignitários políticos, intelectuais e espirituais. No dia
22 de setembro, no parlamento alemão, aconteceu mais um desses momentos. O
papel dos grupos religiosos numa democracia, afirmou o papa, não é "propor
uma lei revelada ao Estado e à sociedade", mas sim sustentar a
"natureza e a razão" como fontes confiáveis de escolhas morais –
incluindo o respeito pelo pluralismo e pela diversidade. A revista “Der Spiegel”
disse que o discurso foi "corajoso" e "brilhante", enquanto
o jornal londrino de esquerda “The Guardian” encorajou os "verdes" laicos
a esquecer os estereótipos do papa como "um professor alemão puritano e
reprimido". Somado a discursos anteriores em Ratisbona (2006), no Collège
des Bernardins, em Paris (2008), e no Westminster Hall, em Londres (2010), o
discurso no Bundestag completa uma proeza de reflexão papal sobre a fé, a razão
e a democracia em quatro volumes.
8. O "Papa dos
agnósticos"
O grupo que mais sentiu o amor de Bento XVI durante 2011 foi
a multidão secular agnóstica (na imagem, a franco-búlgara Julia Kristeva). Provavelmente, a maior manchete da sua viagem em
setembro à Alemanha foi o elogio de Bento XVI aos "agnósticos que (...)
sofrem por causa dos nossos pecados e desejam um coração puro". Essas
pessoas, disse o pontífice, estão, na verdade, "mais perto do Reino de
Deus do que os fiéis de 'rotina', que só veem o aparato da Igreja, sem que o
seu coração seja tocado pela fé". Da mesma forma, o sinal inovador de
Bento XVI durante o encontro de Assis foi a sua decisão de convidar não apenas
líderes espirituais, mas também agnósticos. Quem poderia prever que um pontífice
que se supunha ser o "Rottweiler de Deus" se tornaria o "Papa
dos agnósticos"?
9. O caso do
crucifixo
Num desdobramento impressionante e totalmente inesperado, o
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) reverteu em março a sua própria
decisão de 2009 e sustentou o direito de a Itália exibir crucifixos em salas de
aula públicas. A decisão significa que as expressões públicas de crença
religiosa foram consideradas como não conflituantes com as normas europeias dos
direitos humanos e da liberdade de consciência. A imagem do advogado Joseph Weiler, judeu
ortodoxo, de pé, na grande sala do TEDH com a sua kipá, defendendo
apaixonadamente o direito da Itália de manter o crucifixo na parede, encontra-se
entre as partes mais memoráveis do imaginário inter-religioso do ano.
O ano de 2011 começou com o bombardeamento de uma igreja cristã
em Alexandria, no Egito, que matou 23 pessoas, e encerrou com os ataques no dia
de Natal contra três igrejas na Nigéria, onde pelo menos 27 católicos morreram.
Houve inúmeros ataques contra cristãos. Embora esses episódios tenham sido
amplamente divulgados à medida que ocorriam, foram geralmente interpretados
como eventos localizados e isolados. No entanto, o que surge dessas atrocidades
é um retrato de uma guerra global contra os cristãos. Hoje, os cristãos são de
longe o grupo religioso mais perseguido do planeta. Infelizmente, é uma aposta
segura que esta guerra continuará a ser uma das principais histórias de 2012.
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