No “Ípsilon” de hoje, o crítico Rogério Casanova escreve
sobre o romance psicadélico “Mais um número de Feira”, de Tom Robbins (fui ver
qual o título original e é “Another Roadside Attraction”, de 1971, e li que Robbins é o autor de um romance que deu filme há uns anos, “Even Cowgirls Get the
Blues”, com Uma Thurman).
O romance, às tantas, diz que descobrem nas catacumbas do Vaticano
o corpo embalsamado de Cristo e o contrabandeiam para a América. Ok, é uma comédia.
Rogério Casanova começa assim o seu texto: “Poderá ser um
choque adicional para os leitores ainda estarrecidos com as recentes revelações
sobre inconsistências na Bíblia e o facto de Cristo ser judeu, mas a ficção
literária apresenta um longo currículo de trepidantes revisionismos sobre a
narrativa básica dos Evangelhos. O último segredo do Cristianismo é a quantidade
de penúltimos segredos já «revelados»”.
Refere-se, como é óbvio ao romance de José Rodrigues dos
Santos. Acontece que entre o “Último Segredo” e este romance cómico (e na mesma
linha muitos outros como “Em directo do Calvário”, de Gore Vidal) há uma clara
linha de fronteira. O primeiro pretende-se levar a sério. Pretende-se
científico, “verdadeiro”. Enquanto os outros, ou melhor, este de Tom Robbins, como
diz Casanova, é fruto de uma “fé na doutrina da iluminação pela intoxicação”. Louvado
sejas, LSD.
2 comentários:
Ainda não li o último livro de JRS e, por esse mesmo motivo, não posso opinar quanto ao rigor e qualidade da obra.
Posso, contudo, como cristã que se considera minimamente esclarecida, dizer que não me surpreenderam algumas das afirmações levantadas, nomeadamente a de que a Bíblia contém factos não verdadeiros.
Para quem, como eu, teve catequese até aos grupos de jovens, participou nas aulas de EMRC e frequentou, ainda, um curso de liturgia sobre o livro do Apocalipse, o facto de a Bíblia não ser um documento ou tratado histórico (alicerçada no rigor das fontes, veracidade dos dados e factos, etc) é algo mais que discutido e assumido.
Irei ler o livro, um dia. Para já, vou sorrindo com o facto "surpreendente" de Jesus ter sido judeu e não cristão :)
Mónica
Olá, Mónica. Infelizmente, para muitos cristãos, algumas "revelações" podem ser surpreendentes, tal como o facto de a Bíblia não poder ser interpretada à letra ou conter episódios escritos sob outra perspectiva que não a nossa. Às vezes dá-se um choque. Quanto a "O Último Segredo", sendo um romance, pretende mostrar-se como científico, fazendo afirmações que estão, de facto, em contradição com o que a Igreja afirma sobre Jesus Cristo. O problema não está tanto no entendimento do texto bíblico por parte do romance como nas conclusões que a partir daí afirma. Na realidade, a fé católica começa na Bíblia, não vai contra a Bíblia, mas não é exclusivamente bíblica, até porque a Igreja sempre afirmou que os próprios evangelhos são um fruto da fé eclesial - e não o contrário.
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