No blogue Rerum Natura, a explicação da pintura “A virgem e
o Coelho”, de Ticiano, por António Piedade. Ou como cultura, genética e teologia se juntam num quadro renascentista, aqui.
(…) O quadro referencia a pureza da fertilidade e da concepção imaculada de Maria, representada pela alvura, símbolo de pureza, do coelho enquanto espécie associada à fertilidade. Nesta pintura renascentista, Maria recebe de Catarina de Alexandria o menino Jesus. Este contempla um coelho branco bem seguro pela mão esquerda de sua mãe imaculada. As mãos de Maria fazem a interligação entre o menino Jesus e a pureza representada pelo coelho branco.
Como veremos mais à frente, há razões para uma intencionalidade para este simbolismo do coelho com a pureza e com a concepção sem pecado. Neste contexto, pode dizer-se que a obra faz uma alusão ao mistério da incarnação e da imaculada concepção de Maria, numa interpretação de Tiziano do culto mariano e dos novos evangelhos bíblicos. Mas note-se também na presença de um cesto semiaberto com fruta, uma maçã, numa alusão ao pecado original relatado nos Velhos testamentos.
Esta obra “A Virgem e o Coelho” contém ainda informação insuspeita sobre da evolução da humanidade na sua relação com o mundo. Muito para além do renascimento e vitória da luz sobre as trevas, ajustado pela cristandade ao solstício de inverno, apropriada e primeiramente celebrada nas festividades natalícias neste canto ocidental da humanidade, para celebrar o nascimento do menino Jesus. (…)
[Segundo o édito papal de Gregório I, séc. VI,] os coelhos recém-nascidos não eram considerados carnais pelo que poderiam ser consumidos durante a quaresma sem que daí adviesse pecado para aqueles que os consumissem! Eis uma forte razão para os manter em cativeiro, para os domesticar. Há registos da troca de coelhos no ano de 1194 entre mosteiros do centro da Europa e do Sul de França, o que mostra que a sua domesticação era comum já no primeiro milénio d.C.
A natureza não carnal dos coelhos recém-nascidos, sugerindo uma concepção sem pecado, encontra assim eco na associação do coelho branco do quadro de Tiziano ligado à concepção imaculada do menino Jesus por Maria, nascimento celebrado nesta quadra natalícia pela cristandade.
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