quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Padres que não sabem os Dez Mandamentos


Um programa satírico da tv italiana (o canal é de Berlusconi, mas isso é irrelevante) andou pela rua a perguntar aos padres se sabiam os dez mandamentos. De certeza que muitos sabiam. E esses não passam na peça. Mas espanta-me que alguns não saibam. E, ainda mais, os rodeios que fazem para se safarem de os nomear em concreto. E há transeuntes que ajudam os padres. Ver aqui.

13 comentários:

Anónimo disse...

São pessoas verdadeiras quase de certeza! Podiam não ter emprestado a cara ao filme. E será que todos os condutores sabem o código? Mas sabem seguramente muitas outras coisas. Irrelevante para mim.

Talvez esses sacerdotes cumpram os mandamentos sem o saber.

Jorge Pires Ferreira disse...

Espero que sim, que cumpram os mandamentos, mesmo que não os saibam de cor. Mas deviam sabê-los de cor, como qualquer cristão. Não é como Einstein, que podia não saber a tabuada (talvez seja só mito urbano), ou como os professores de matemática que não sabem calcular a raiz quadrada sem calculadora.
Não podemos dizer que o maior mandamento é o amor e confundir os outros todos. Maior do que quê?
Por outro lado, até por uma questão cultural, parece-me bem que os mandamentos sejam sabidos de cor. Mas o que me espantou foram os rodeios de alguns. Quando não se sabe, anda-se à volta, à volta, à volta.

Maria de Fátima disse...

Além disso sabem todos, de certeza, amar o próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as coisas. Eu também sou jurista e não sei as leis todas de cor.
Vejam bem o drama que tentaram arranjar aos Padres. Haja paciência ...!

Jorge Pires Ferreira disse...

Maria de Fátima, parece-me óbvio exagero que uma jurista saiba as leis todas de cor. Isso seria como exigir a um padre que soubesse de cor o Catecismo da Igreja Católica ou o Código de Direito Canónico. Mas não saber os Mandamentos,ou, já agora acrescento, não saber enumerar os livros da Bíblia ou não saber quais são os sete pecados capitais ou os sete sacramentos, pode não dizer nada do nível moral de uma pessoa - padres no caso - mas diz algo no nível intelectual. Não acha que pelo menos por uma questão de background histórico e cultural é bom saber algumas coisas de cor? Por outro lado, não saber os dez mandamentos é mais ou menos como não saber quais os sete sacramentos. E aí toca-se em algo essencial para a Igreja Católica. Mas não era essa a pergunta.

Manuel Gonçalves disse...

Um doutor da lei perguntou a Jesus qual era o mandamento mais importante da Lei, ao que Jesus respondeu: amar a Deus, com todas as forças, antes e acima de tudo, acrescentando, o segundo porém é semelhante a este, amar o próximo como a si mesmo. Jesus acrescenta: nestes dois mandamentos está contida toda a LEI (a Torah, que inclui os 10 Mandamentos) e os Profetas, numa palavra, toda a Sagrada Escritura (dos judeus, que corresponde ao Antigo Testamento para os cristãos) está contida no duplo mandamento do Amor. É quanto basta, vivido com radicalidade. O mais são outras formas para acentuarem e duplo mandamento. Aliás, os três mandamentos da Lei dizem respeito à nossa relação com Deus, e os restantes sete à nossa relação com os outros, isto é, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Para a Igreja Católica o mais importante não são os 10 Mandamento, embora sejam parte da Palavra de Deus e cuja sabedoria e simplicidade enforma os próprios direitos do homem. Para a Igreja católica o mais importante é JESUS CRISTO, com a Sua mensagem, vida, com os Seus gestos, e sobretudo com a Sua morte e ressurreição. Os mandamentos são importantes, mas o mais importante é o Mandamento Novo: Amai-vos uns aos outros como EU vos amei... amar como Jesus dando a vida... A mim preocupar-me-ia sobretudo com aqueles que sabendo perfeitamente as LEIS, os Mandamentos, não os praticam. A eles Jesus chama hipócritas: exige e não cumprem... e alguns deles também eram sacerdotes (da Antiga Aliança). O saber é importante, na medida em que nos ajuda no compromisso com Deus e com os outros, mas o essencial é o viver, em palavras e obras, ao jeito de Jesus.

Maria de Fátima disse...

Eu apenas quis comparar porque também há quem olhe para nós juristas como se fôssemos uma enciclopédia e tivéssemos que ter tudo na ponta da língua. É evidente que o essencial, naturalmente, temos presente. Mas é natural que nós também nos esqueçamos, às vezes, e depois nos voltemos a lembrar. E, penso, que terá sido o que aconteceu nesta entrevista. Não acredito que haja um Padre que não saiba os mandamentos.

Jorge Pires Ferreira disse...

P.e Manuel Gonçalves, concordo com tudo o que diz, mas, lembrando-me de um célebre ensaio de González-Faus sobre a progressiva irrelevância cultural do clero, lido há dez anos, e pensando que temos um Papa que é teólogo e que gosta de ler e escrever livros, convém não descurar o aspecto intelectual da fé. Há dias, citei neste blogue um outro que dizia que havia padres formados nas Novas Oportunidades. Se não sabem, como hão-de interpretar e comunicar sobre a palavra de Deus? O amor basta para a salvação. Mas não chega para a comunicação, que, como sabe, é uma forma de comunhão.

Anónimo disse...

Sou padre e estou a intervir pra dizer que os sei.

Jorge Pires Ferreira disse...

Penso que concordará comigo que é estranho um padre e mesmo um leigo cristão não os saber de cor...

Anónimo disse...

Deliciosa esta branca, diz-se por aqui:
http://jardimdeluz.blogspot.com/

Eu também acho!

Jorge Pires Ferreira disse...

Obrigado pela referência, Jardim de Luz.

Anónimo disse...

Concordo que deveriam saber os Mandamentos, mesmo vivendo uma vida de santidade, não se pode descurar o saber que pelo caminho nos foi levando até criar hábitos saudáveis e uma vida santificada pelo saber e o sabor da Palavra, sendo luz e sal. Mesmo que se esqueça os Mandamentos escritos na Pedra e entregues na Montanha, e se viva apenas seguindo aqueles "Mandamentos" escritos em Corações de carne e ensinados no Monte, não podemos perder a nossa herança Judaica, apenas pela desculpa de que somos bons Cristãos, ou Católicos, pois as leituras do Novo Testamento não se fazem senão em paralelo com os do Velho Testamento. Numa viagem em que se alcança um momento em que se tira das costas o que se foi carregando durante anos pelo que parecia um deserto de sedes, para então livres desse peso que nos colocaram nas costas podermos experimentar a força de fazer o nosso próprio caminho, não nos podemos esquecer do que ficou para trás, sob pena de a caminho do destino termos de recomeçar a aprender o que ficou esquecido, pois as pernas tornam-se torpes e não caminham, mesmo com um coração puro e cheio de força.

Anónimo disse...

Todos os cristãos devem praticá-los em sua vida diária e, tanto melhor, conhecê-los de cor. Mas no que se aos Padres, não saber enumerá-los é demonstração de falta de leitura e estudo, ausência inaceitável em quem possui tão importante trabalho.

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