quarta-feira, 21 de setembro de 2011

“Porque é que o homem está agarrado ao peito, papá?”


Há poucos anos estive na Galeria de Arte da cidade de Birmingham. Num canto envidraçado, há uma pintura pequena e intensa de Petrus Christus, que representa Cristo mostrando as suas feridas: de polegar e indicador estendidos, ele mostra onde a lança entrou – convida-nos mesmo a medir o golpe. A coroa de espinhos floriu num halo de glória, dourado, semelhante a algodão-doce. Dois santos, um com um lírio e outro com uma espada, assistem-no e afastam os cortinados de veludo verde dum palco estranhamente doméstico. Quando me retirava depois de ter examinado o quadro, reparei num pai em fato de treino com um filho pequeno, que vinham na minha direcção, com a atitude de quem odeia arte. O pai, equipado com melhores sapatilhas e mais energia, vinha um ou dois metros à frente. O rapaz olhou de relance a obra e perguntou, com um forte sotaque de Birmingham: “Porque é que o homem está agarrado ao peito, papá?” O pai, sem abrandar a marcha, conseguiu olhar para trás e para o lado, e respondeu logo: “Não sei”.


Julian Barnes, pág. 69-70 de “Nada a temer” (ed. Quetzal)
Para saber mais sobre o quadro, ver aqui.

1 comentário:

Mauricio Valentini disse...

Todo guerreiro possui uma armadura, uma identidade, uma causa.
Vista-se cristão!
Acredito que no Papa de acertado em muito em suas nomeações. A Diocese de Franca esta deslumbrada com a vinda de D.Pedro Luiz

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