Documentos da Igreja sobre a Bíblia
Herculano Alves
2240 páginas
Difusora Bíblica / Gráfica de Coimbra
Impressa em papel bíblia, esta obra de mais de duas mil páginas, em segunda edição, “corrigida e aumentada” (a primeira, com 438 páginas, era de 1990), reúne os documentos da Igreja sobre o “livro dos livros”, desde o Cânon de Muratori até à exortação pós-sinodal “Verbum Domini”, de Bento XVI, de 30 de Setembro de 2010.
O Cânon de Muratori é um manuscrito do séc. VII, mas cujo conteúdo remonta ao séc. II, descoberto pelo padre italiano Ludovico Muratori na Biblioteca Ambrosiana de Milão, em 1740. É um documento fundamental porque contém a lista dos livros do Novo Testamento (excepto a 1.ª e 2.ª Cartas de Pedro, que deveriam estar referidas numa parte do documento desaparecida) e um breve documentário de cada um dos livros mencionados. Revela que a formação do cânon do Novo Testamento, isto é, a lista dos livros considerados inspirados, logo, Palavra de Deus, é realmente muito antiga, dos tempos imediatamente pós-apostólicos.
Antes de entrar propriamente na transcrição dos documentos, precedidos por uma breve introdução a cada um deles, o volume apresenta um “percurso histórico” de quase uma centena de páginas sobre “a Bíblia na Igreja”.
Herculano Alves, nesta obra imprescindível para quem estuda a Bíblia e para quem a lê e medita, mostra que a afirmação de que a Igreja Católica deu pouco importância à Bíblia deixando “o livro do Cristianismo nas mãos dos protestantes e das seitas” em parte é verdadeira. Ou seja, é verdade que os protestantes, durante séculos, conheceram mais a Bíblia do que os católicos, mas não é verdade que a Igreja lhe tenha dado pouca importância, em detrimento dos dogmas e dos sacramentos. Só que as boas intenções por vezes têm resultados péssimos. Afirma o autor: “Estes documentos provam, antes de mais, que a Igreja se preocupou com a Bíblia e com a maneira de a interpretar. Daí a razão de muitos destes documentos terem a pretensão de defender a Bíblia de falsas interpretações. Foi também esse cuidado despendido na «defesa» da Bíblia que, tendo embora óptimas intenções, teve o seu reverso da medalha: provocou um falso temor da Bíblia, o medo de a interpretar mal e, consequentemente, o abandono da mesma”.
No final do volume apresentam-se um glossário que é um minidicionário técnico da Bíblia e vários índices que ajudam o leitor a orientar-se nestes dois mil anos de história: Índice cronológico dos documentos, índice dos títulos originais dos documentos, índice dos documentos da Pontifícia Comissão Bíblica, e Índice geral.
A disponibilização destes 352 documentos sobre a Bíblia, em português, não pode deixar de ser saudada como um grande feito editorial. É realmente um livro sobre os livros (2000 anos de documentos) sobre o livro dos livros (a biblioteca que é a Bíblia).
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