António Ferreira Gomes, Bispo de Portalegre (1948-52) e do Porto (1952-82), morreu no dia 13 de Abril de 1989. Defensor dos direitos humanos e da doutrina social da Igreja, escreveu no dia 13 de Julho de 1958 uma carta a Salazar, na sequência das eleições fraudulentas em que concorreu Humberto Delgado, sobre uma série de questões nacionais, incluíndo a participação dos católicos na sociedade portuguesa, os direitos dos trabalhadores, a formação de partidos políticos. A carta não obteve resposta, mas o Bispo do Porto teve de se exilar entre 1959 e 1969, até à morte do ditador.
No final da carta o Bispo condensa em quatro pontos as suas interpelações:
1.° - Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja ensine livremente e por todos os meios, principalmente através das organizações e serviços da Acção Católica e da Imprensa, a sua doutrina social?
2. º - Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja autorize, aconselhe e estimule os católicos a que façam a sua formação cívico-política, de forma a tomarem plena consciência dos problemas da comunidade portuguesa, na concreta conjuntura presente, e estarem aptos a assumir as responsabilidades que lhes podem e devem caber, como cidadãos católicos?
3.º - Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos definam, publiquem e propaguem o seu programa ou programas, politicamente situados, em concreto hic et nunc, o que evidentemente não pode ir sem o despertar de esperanças de mutações ousadas e substanciais e do seu clima emocional.
4.º - Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos, se assim o entenderem e quando o entenderem, iniciem um mínimo de organização e acção políticas, a fim de estarem aptos, nas próximas eleições legislativas ou quando o julgarem oportuno, a concorrer ao sufrágio, com programa definido e com os candidatos que preferirem?
O documento pode ser lido na íntegra na Fundação Spes (aqui), uma fundação criada pelo testamento do próprio Bispo. Presidida por D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, a fundação está “vocacionada para a difusão, entre os mais responsáveis, dos valores que deverão promover o desenvolvimento de uma civilização da Beleza e do Amor”, tendo sempre como referência a “dignidade e a liberdade do Homem” (dos Estatutos).
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