“O Vaticano não tem só um problema de comunicação externa – o problema também é interno. Todas as gafes, os mal entendidos, os erros dos últimos anos não foram realmente provocados pela falta de habilidades de comunicação com o mundo exterior. Essa é uma dimensão dela, mas o verdadeiro problema é que, dentro do Vaticano, a discussão não é livre e ampla o suficiente”, afirma Massimo Franco, jornalista do “Corriere della Sera”, numa entrevista que John L. Allen Jr. lhe fez para o "National Catholic Reporter".
Massimo Franco escreveu um livro intitulado “C'era Una Volta un Vaticano” (“Era uma vez um Vaticano”) defendendo que está a acontecer uma mudança histórica de que o Vaticano ainda não se apercebeu. O Vaticano deixa de ser o capelão do Ocidente.
A entrevista é instrutiva (mais diagnósticos do que soluções – reconhecem entrevistado e entrevistador) em vários aspectos. Dá pistas para uma o Vaticano fazer uma introspecção (e todos nós, como Igreja). Alguns excertos:
Autoconcolação? O Vaticano orgulha-se de ser contracultural, mas às vezes eu acho que essa é uma forma de autoconsolação. Na verdade, eu acho que o Vaticano está certo quando diz que, no futuro, o Ocidente terá que retornar para a religião.
Divorciados do mundo externo. A questão é: qual religião? Será que o Vaticano vai estar lá no momento certo para responder às perguntas que as pessoas estarão se fazendo? Eu não tenho a resposta, mas posso dizer que há uma desconexão entre o Ocidente e o Vaticano do ponto de vista da linguagem. Não é o fato de os católicos serem uma minoria, mas sim de serem um modelo autorreferencial, não um modelo criativo, com nenhuma capacidade de expansão. É isso que eu temo. O risco é de dar voltas em si mesmo cada vez mais, divorciados do mundo externo.
Comunicação interna. É importante dizer que o Vaticano não tem só um problema de comunicação externa – o problema também é interno. Todas as gafes, os mal entendidos, os erros dos últimos anos não foram realmente provocados pela falta de habilidades de comunicação com o mundo exterior. Essa é uma dimensão dela, mas o verdadeiro problema é que, dentro do Vaticano, a discussão não é livre e ampla o suficiente.
11 de Setembro eclesial. O que os atentados das Torres Gêmeas foram para os Estados Unidos, os escândalos dos abusos sexuais são para a Igreja. As Torres Gêmeas significaram que o unilateralismo e a hegemonia militar norte-americanos haviam terminado, e os escândalos dos abusos sexuais significaram que o unipolarismo ético da Igreja Católica acabou. O Ocidente está em crise, de um ponto de vista militar, tecnológico, econômico e moral. Ambos os impérios paralelos hoje estão aprendendo mais interiormente, estão mais fracos e não colaboram um com o outro.Ler a entrevista toda aqui.
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