quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sexo, poder e dinheiro, os tormentos da Igreja Católica

O manifesto dos teólogos católicos de língua alemã (alemães, suíços e austríacos) não é só sobre sexo, mas sobre sexo, dinheiro e, ainda mais, poder - a tríade que geralmente atormenta a Igreja Católica (e que tem um curioso contraponto nos ditos conselhos evangélicos). Mas pelos ecos que se seguiram, parecia, aliás, falar apenas do celibato.

O cardeal Walter Kasper (presidente emérito do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e autor de uma magnífica cristologia descendente), que em 1970 assinou um pedido de estudo sobre a necessidade do celibato obrigatório para os padres, disse há dias, de passagem por Lisboa, que, embora a discussão “nunca” esteja encerrada, há uma decisão da Igreja sobre esta matéria e que o actual Papa não pensa “mudar esta disciplina” do celibato obrigatório (li aqui). Sobre as outras questões não fala.

O perfeito para a Congregação do Clero, cardeal Mauro Piacenza, diz mais. Diz que o celibato sacerdotal tem “uma validade perene” (ver aqui).


Embora me espante que estes altos responsáveis da Igreja abordem apenas uma das questões colocadas pelos teólogos de língua alemã (sobre o celibato, há somente uma frase, que diz que “a Igreja também necessita de padres casados”, sublinhado meu, o que não significa a abolição; significa antes a não obrigatoriedade), espanta-me mais que não afirmem a perenidade do celibato quando os pastores protestantes, casados, se convertem ao catolicismo e são ordenados padres (ver exemplo aqui); ou quando os anglicanos, padres e bispos, entram na Igreja católica com as suas famílias – e ainda bem –, como tem acontecido por estes dias no Reino Unido; ou quando há padres católicos de rito oriental casados (há dias alguém me dizia que numa diocese sul do país um homem fora aconselhado a frequentar uma comunidade de imigrantes católicos de rito oriental de forma a poder ordenar-se casado e depois passar para os católicos de rito latino já casado - o que o impediria?). Por que é que nestas alturas não falam? Aqui o celibato já não vale? Isto não são práticas contraditórias na Igreja Católica? Talvez não, na lógica do poder. O que interessa é o poder.

A principal questão do manifesto dos teólogos católicos de língua alemã é a do poder: participação dos leigos na escolha dos ministros; responsabilidade aos leigos nas paróquias; cultura de direito, liberdade e misericórdia; liberdade de consciência; liturgia não centralizada. Tudo questões de poder.

O Manifesto “Igreja 2011: uma viragem necessária” pode ser lido na íntegra, em português, aqui.

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