sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Porque Gregório XVI temia o comboio


Gregório XVI temia o comboio e o que significavam os caminhos-de-ferro (lembrei aqui há dias). Por isso, não queria deixá-los entrar (ou passar) nos territórios pontifícios, quando estes ainda ocupavam toda a cintura da bota transalpina. Comboio é movimento, mudança, desenraizamento, gente do campo para a cidade, perda de referências, ateísmo. Pensava o Papa.

Não era o único a temer o comboio. Na altura, ou talvez uns anos antes, discutia-se sobre o que aconteceria se os comboios ultrapassassem certas velocidades, tipo 30 ou 40 km/h. Desintegrava-se? Morriam todos?

Em França, um acidente do comboio Versalhes - Paris, no dia 8 de Maio de 1842, não deixa qualquer sobrevivente. Os vagões com madeira ardem como palha, matando toda a gente, o que leva Antoine Madrolle (1792-1860), impressionado com a catástrofe, a escrever uma “Théologie des chemins de fer de la vapeur et du feu” - contra o progresso.

De outro medo do comboio fala-nos Timothy Radcliffe e não é descabido pensar que Gregório XVI, um francófilo, conhecia tais teorias:
“Os sociólogos especularam sobre as propriedades mágicas das estações de caminho-de-ferro, na França do século XIX. Camponeses profundamente religiosos vinham para paria à busca de trabalho e, quando os seus pés tocavam na plataforma, deixavam de ir à Igreja. Esqueciam-se de Deus”.
Num capítulo sobre a dádiva e a gratidão, Radcliffe acrescenta que “num bairro de lata urbano, deixou de ser óbvio que tudo era uma dádiva, e a memória do Doador de todas as coisas depressa se desvaneceu” (pág. 112 de “Ir à Igreja porquê?”).

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