quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Menos nulidades de casamentos, mais rigor no matrimónio - pede Bento XVI


O Papa pediu, no início do novo ano judicial do Vaticano, “maior atenção na análise dos processos de nulidade de casamento, no Vaticano, defendendo que a Igreja deve apostar na preparação dos noivos para evitar casamentos precipitados e anulações facilitadas” (notícia da Ecclesia).

Disse em concreto: “Há que empenhar-se para que, na medida do possível, se interrompa o círculo vicioso que muitas vezes se verifica entre uma admissão fácil ao matrimónio, sem a adequada preparação e sem um sério exame dos requisitos previstos para a sua celebração, e uma declaração judiciária igualmente fácil, mas de sinal oposto, na qual se considera o próprio matrimónio apenas com base na constatação da sua falência” (ler o discurso todo aqui).

Compreende-se o que o Papa quer dizer. O casamento é indissolúvel. Se não deu certo, é porque não houve casamento, logo, declare-se a sua nulidade. Este é o pensar de muita gente e, pelo que Papa dá a entender, também de alguns juízes eclesiásticos nos tribunais diocesanos e na Rota Romana.

Perante isto, só há duas alternativas, ou admitir o divórcio, como fazem os ortodoxos, reconhecendo que o matrimónio idealmente é indissolúvel, mas o ser humano não é impecável. Ou endurecer a disciplina. Parece que é esta a via do Papa. Mas se é esta, o casamento deveria ser apenas para uma elite, e do mesmo modo os restantes sacramentos.

Casamento católico só para quem quer mesmo o casamento católico e não simplesmente para quem quer o que a Igreja quer (é neste princípio que se aceita quem deseja um sacramento), mesmo sem saber o que realmente a Igreja quer. Casamento católico só para quem vai à missa todos os domingos, chega virgem ao casamento, deseja efectivamente baptizar os filhos na fé católica, acredita no Credo de uma ponta à outra… Mas a mesma liberdade de consciência para querer o casamento católico deveria ser exigida a todos os outros sacramentos, o que significava, numa análise imediata, que os sacramentos só seriam administrados a adultos, a começar pelo Baptismo.

Podendo parecer que não, isto está muito ligado, porque a Igreja não tem como recusar o casamento a dois adultos que sejam baptizados e respondam afirmativamente ao inquérito que lhes é feito, mesmo que mintam.

Concordo com Bento XVI que tem de haver “adequada preparação” e um “sério exame dos requisitos previstos”, mas não apenas para este sacramento. Para todos. Mas receio que isso significasse o fim do Evangelho da misericórdia e o início de uma seita. E mesmo que o casamento fosse apenas para uma elite fiel, as dificuldades nas relações não terminariam. Quantos já vi que pareciam tão rigorosos, tão honestos, tão fiéis e faziam da vida em comum um inferno. Admito: não sei onde nos levaria o rigorismo nem o liberalismo matrimonial.

No “El País” da vizinha Espanha, a propósito deste assunto, uma nota histórica que não é de todo alheia a Portugal (lido aqui):
Muitas das tensões entre o Estado e a Igreja tiveram o matrimónio como testemunha, tendo a legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo como último incidente, em 2005. Foi uma disputa furiosa, com bispos manifestando-se contra o Governo pelas ruas de Madrid, mas muito menos agressiva que quando, em 1870, se introduziu na Espanha, pela primeira vez, o direito somente do casamento civil. Os jornais católicos publicaram a notícia da votação nas Cortes em páginas de margens pretas e os bispos ordenaram a celebração de ofícios expiatórios em todas as igrejas. Motivo: acabava-se de legalizar “o concubinato público universal”.

1 comentário:

Anónimo disse...

Com o devido respeito é bom realçar que a Igreja Protestante (casados) está cheia de casos de sacerdotes em divórcios litigiosos, isto referido em ultimos sínodos dos bispos em Roma. Não escondámos que o Papa tem toda a razão. Mas a sociedade caminha para o regabofe...

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...