quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

E se Bento XVI falasse assim?


O Papa quer mais exigência nos casamentos católicos e declarações de nulidade mais escrutinadas (aqui). O discurso do Papa, dos últimos papas, tem sido quase sempre o do aumento do rigor, de maior moral nos actos. E se um Papa tivesse um discurso como o que se segue? Por que é que a palavra do Papa não é de esperança para os que mais dela precisam? Ou se é, é de uma esperança desencarnada. As palavras que se seguem não de ninguém de fora da Igreja. São de Timothy Radcliffe, que foi mestre geral dos dominicanos (nas páginas 166-167 de "Ir à Igreja porquê?"). Um Papa não poderia falar assim? Hoje seria difícil por causa da alínea dos pedófilos, mas mesmo assim.

E quais são as pessoas que nós, Igreja, empurramos para fora ou, pelo menos, deixamos vaguear em torno da cerca, como cidadãos de segunda classe: os divorciados e recasados, as pessoas que vivem juntas (não casadas), os homossexuais. Tem de haver para eles um lugar à volta dos nossos altares, regozijando-se com a hospitalidade de Cristo, juntamente com todos os outros, Muitas vezes, as nossas Igrejas mantêm vida uma compreensão veterotestamentária da santidade, apartando as nossas comunidades daqueles que são tidos por desencaminhados. Talvez isto se assemelhe à manutenção das normas, à recusa do relativismo moral, mas trata-se tão-só, na verdade, da incapacidade de captar a santidade nova e inédita de Cristo.Quem são as pessoas fora do acampamento na nossa sociedade, os leprosos imundos, as prostitutas e os cobradores de impostos? Rufias, bandos de rua, criaturas que atraem os rapazes e as jovens para a prostituição, MPs apanhados a falsear as suas despesas? O imundo supremo na nossa sociedade é, porventura, o pedófilo quem mesmo depois de ter cumprido a pena de prisão, será caçado, cujas portas estarão marcadas com o abuso, e que é visto como o compêndio do mal, o bode expiatório no qual projectamos todo o nosso medo e fracasso. Eis os indivíduos que são lançados fora do acampamento, para o lugar onde Cristo morreu. Cristo também morreu por eles.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo post. Sobretudo no que concerne às pessoas que estão divorciadas. O meu relacionamento com as pessoas que tiveram problemas ou têm é o mesmíssimo de todos os outros. No que diz respeito à homossexualidade apetece dizer como o spot publicitário: Podia ser a mesma coisa, mas não é...
Não se trata de acolher ou não, mas este problema em meu entender nem disso se trata. A Igreja tem toda a razão: desvio na pessoa. Aliás verificámos isso na Igreja Anglicana e outras em que o problema da homossexualidade só tem originado divisões. Não é por acaso que a viagem de Bento XVI em Inglaterra foi muito esclarecedora.

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