O Natal já lá vai. Já ninguém pensa nisso, como não pensou muito quando ele por nós passou. No rescaldo, sabe bem ler o texto de José Ignacio González Faus, no seu blogue, em espanhol (aqui), ou traduzido em português no IHU (aqui, apesar de erros como “esquisita Maria” por “Maria de bom gosto” ou “Corte inglesa” pelo nome da cadeia de supermercados que, com certeza, não existe no Brasil).
Assim esquecemos todo o lado polêmico da mensagem natalina: que Deus não nasceu no Templo de Jerusalém, nem sequer numa pousada decente, senão num estábulo. O que, com palavras de hoje, significa: Deus não nasce na catedral de Barcelona, nem na igreja Sagrada Família, senão no [rio] Besós [Barcelona] ou no Raval [nos arredores de Barcelona, ndt]; nem nasce na Catedral de Nossa Senhora daAlmudena, senão na Canadá real; nem nasce na Corte inglesa, senão numa favela, nem nasce no Vaticano, senão na Faixa de Gaza, nem em Manhattan, senão no Haiti... E seu sinal não são as luzes em nossas ruas senão a falta de luz nos subúrbios.
(…)
Imaginemos então o que ocorreria se uma multidão de cristãos, mais conscientes de todo este significado, começasse a tomar decisões como estas: no natal não vamos consumir nada, não porque não possa ter sentido materializar o gozo interno, senão para compensar a unilateralidade na qual caímos. Nem vamos jogar na loteria porque não queremos enriquecer-nos precisamente nos mesmos dias em que Deus empobrece. Nem damos presentes às pessoas queridas senão somente àquelas com as quais nos encontramos inimizados ou a quem necessitamos perdoar. Nem plantaremos beléns transbordantes de figuras caras, senão um simples presépio desvencilhado e vazio, da mesma forma como aquela cadeira daquele prêmio Nobel da paz que esteve vazia durante a cerimônia: como que simbolizando que a Deus igualmente não deixamos vir hoje porque é um dissidente deste mundo, como Liu Xiaobo.
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