quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Esperança mas sem ilusão - Entrevista com D. Manuel Clemente


Mais uma entrevista com D. Manuel Clemente, com enfoque no norte do país.

Um excerto:

José Leite Pereira (JN/TSF): Não queria perder a oportunidade de falar consigo, Sr. D. Manuel, sobre a sua homilia no início do ano de combate ao laicismo, que no fundo, tem a ver com o que estivemos a falar: do envolvimento dos cidadãos.

D. Manuel Clemente: Exactamente. A laicidade é uma enorme conquista da civilização. Essa, sim, é uma verdadeira conquista da civiloização porque é uma redescoberta e um aprofundamento da realidade pessoal como dinamismo de apreensão, escolha, opção e decisão em termos daquilo a que se chama a verdade. A verdade em geral, mas, sobretudo, a verdade como ela é sentida por cada um. O respeito pela pessoa e pelas suas opções, religiosas ou não - o Papa diz na sua mensagem para este ano que a liberdade religiosa também permite a alguém não só mudar de religião como até não ter nenhuma. É uma liberdade da pessoa em relação à verdade da pessoa. A laicidade e secularidade é um grande bem. O laicismo, sobretudo como ele foi protagonizado em alguns sectores mais radicais desde a revolução francesa e depois se espalhou, em especial, na Europa latina, é outra coisa. É dizer que as convicções religiosas dos cidadãos não têm nem devem ter nenhuma projecção pública. Isto é mau e é exactamente o contrário da laicidade. A laicidade respeita a liberdade religiosa da pessoa. O laicismo suprime essa liberdade religiosa porque a põe apenas no seu intímo, na sua consciência.

JLP: Isso seria um tema bom para outro programa. De qualquer modo creio que o Sr. D. Manuel não subscreve as palavras do Cardeal espanhol, o Arcebispo Roco, que, curiosamente no mesmo dia, falando do combate ao laicismo, dizia que era preciso lançar uma reconquista pela Espanha que estava demasiado laica. Estamos a falar de duas personalidades muito diferentes: a sua e a do Cardeal espanhol. Também penso que as suas visões são um pouco diferentes das dele.

DMC: Sobretudo não uso nem sinto as coisas em termos belicistas. Compreendo historicamente a palavra reconquista. Sou capaz de a situar em Espanha que, tal como Portugal, nasceu num quadro da chamada reconquista cristã. Compreendo a alusão histórica, mas não gosto de utilizar esse tipo de terminologia porque acho, antes de mais, que serve mais para distanciar as posições do que propriamente para fazermos qualquer coisa em conjunto e nos reencontrarmos mais à frente.

Pode ser lida on-line, aqui.


Mais entrevistas com o Bispo do Porto e Prémio Pessoa 2009 aqui.

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