Uma diversão de Miguel Esteves Cardoso sobre os doces conventuais e uma interpretação pouco ortodoxa da opção pela vida de claustro, mas real em algumas épocas e lugares.
A maioria das freiras não ia para os conventos por escolha espiritual. Como diz Alfredo Saramago: "As segundas filhas ricas, algumas herdeiras solteiras, viúvas, adolescentes órfãs mas com fortunas constituíam a população feminina dos conventos. Gente habituada a uma vida rica com os hábitos e costumes de uma classe privilegiada".
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Imagine-se agora com uma mulher enclausurada. Para sempre. Tem fartura de açúcar, ovos e amêndoas. O que é que faz? Doces. Doces que levam muito tempo a fazer. Doces que pode comer. Doces que pode oferecer ou vender. Doces que dão prazer, que trazem elogios e são trocados por outros doces. Doces que se podem comer à mesa, numa atmosfera católica e portuguesa onde a gula gastronómica é mais uma prova de humanidade do que um pecado mortal. Que é, no máximo, uma marotice.
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Dir-se-ia que [os doces] são o contrário da simplicidade e do sacrifício das freiras. Mas não são: são o resultado. Os doces conventuais são onde se soltam e concentram todos os desejos de liberdade e de prazer - toda a criatividade e toda a revolta - que não podem ser exprimidos e satisfeitos separadamente, de maneiras mais directas e mais fáceis (ler tudo aqui).
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