Thomas Moore
Ed. Estrela Polar
220 páginas
“Jesus não era um moralista insípido que oferecia recompensas utópicas para uma vida dedicada ao bem; era um homem sofisticado que desfrutava da sua vida em comunidade, com os seus amigos e amores, e que possuía uma filosofia fascinante e original” (pág. 12).
O escritor e psicoterapeuta Thomas Moore não o afirma claramente, mas reconhece que as mediações entre o homem do século XXI e Jesus não são as melhores. Algo se perde pelo caminho. “Suspeito que a nossa tendência para o sentimentalismo ou o transformar num cruzado moral é uma defesa contra o desafio absolutamente radical do seu intelecto. Enquanto guardamos piedosamente a sua personalidade, como se fosse uma relíquia, não podemos sentir todo o vigor da sua visão para a humanidade”, escreve na Introdução da “Escrever na areia”. Neste livro, pretende, pois, mostrar que “o esplendor da Basílica de S. Pedro não é nada comparado com a esperança e a promessa do modo de vida alternativo que Jesus imaginou” (pág. 11). Para isso, é preciso recuperar os Evangelhos, através da releitura destes textos fundacionais do cristianismo. É que os Evangelhos tanto podem ficar aprisionados na História, coisa frequente entre os académicos, como serem interpretados de forma literal e moralista, coisa frequente entre os seguidores (pág. 15).
Moore não se dirige especificamente aos cristãos, porque os Evangelhos podem iluminar pessoas de outras religiões, mas, notando que se cruza com pessoas que já foram cristãs e sentem nostalgia dos Evangelhos, espera que este livro lhes “ofereça (…) uma forma de reimaginar a imagética e as férteis histórias dos Evangelhos” e de “obter uma nova segurança e estabilidade”.
O autor pontua as suas reflexões com dados da psicologia e de outras tradições religiosas que, de facto, refrescam as palavras de Jesus, não que elas tenham perdido a frescura original, mas à força de serem lidas em contextos fixistas, lançou-se sobre elas uma camada de pó que lhes oculta o brilho. Como escreve no Bento Domingues ("Público" de 12-12-2010), “se lêssemos as narrativas do Novo Testamento sem beatices e reparássemos na ironia, no riso e no humor que as percorrem, seria fácil descobrir quanto o Evangelho é divinamente divertido!”.
O livro de Thomas Moore, mostrando que o Reino de Deus é “uma nova forma deimaginar a vida humana”, que a metanóia é “uma mudança radical de vida” ou que enfrentar os demónios é “ser curado daquilo que nos possui”, contribui, se não para mostrar que o Evangelho é "divinamente divertido", para realçar que é humanamente actual e existencialmente aliciante – o que é melhor do que divertir.
O autor. Thomas Moore é norte-americano, natural de Detroit, de uma família de origem irlandesa. No livro afirma que nasceu e foi de educado numa família católica, reconhecendo nos evangelhos a “fonte inata” da sua espiritualidade. Diz ainda no final da sua obra: “Escrever este livro fez-me regressar aos meus vinte e pouco anos, quando vivia numa comunidade religiosa e estudava os Evangelhos como parte da minha formação para me tornar padre. Nunca terminei essa formação, mas a minha vida sofreu uma grande reviravolta por causa desses estudos”.
Estão publicadas em português as suas duas principais obras (entre outras): “O sentido da alma” e “A emoção de viver a cada dia”, ambas na Planeta Editora.
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