terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Jon Sobrino: "Na Igreja, temos uma tendência para nos distanciarmos de Jesus de Nazaré"

De passagem por Bilbao, o teólogo e padre jesuíta Jon Sobrino (nascido em Barcelona, em 1938, de uma família basca) deu uma entrevista denunciando o tipo de sociedade em que vivemos e boa para compreender o que foi a teologia da libertação, paga com a vida de quatro bispos, dezenas de padres e milhares de leigos.

Considero o capitalismo com ética (ou seja, a livre iniciativa em mercados livres, protagonizada por pessoas de ética humanista, num regime democrático) o menos mau sistema para se viver, mas não deixo de sentir vergonha, como Jon Sobrino, perante os factos.

Às vezes, eu sinto vergonha. Por exemplo, interessamo-nos de verdade pelo Haiti? Obviamente, ele levantou interesse no começo e teve algumas respostas sérias. Mas passa um tempo e já não importa... Outro exemplo que contei outras vezes: em um jogo de futebol de equipes de elite jogando a Champions [League], calculei que, no campo, entre 22 jogadores, havia duas vezes o orçamento do Chade... Isso me enoja e me envergonha. Algo muito profundo tem que mudar neste mundo...

O jesuíta fala da “Notificatio” de 2006 (assinada pelo lusodescendente cardeal William Levada, mas com dedo ratzingeriano, ler aqui) e diz o que, na verdade, constitui um bom filtro para ler os pronunciamentos das autoridades eclesiásticas ao mesmo tempo que é uma crítica contundente à hierarquia católica:

Na "Notificatio", disseram que dois livros meus continham afirmações errôneas e perigosas. Antes, eu os havia dado para que sete teólogos sérios os lessem, e nenhum me disse que havia algum problema de possibilidade de heresia... Penso que Jesus de Nazaré sempre incomoda. Deus incomoda menos, porque é tão intocável, tão impalpável... Penso que, na Igreja, temos uma tendência a nos distanciarmos de Jesus de Nazaré. Não quer dizer que não falemos de Cristo, mas Cristo é "o ungido", um adjetivo.

Creio que o mais perigoso é ignorar que Jesus não simplesmente morreu, mas que o executaram. E o mataram porque enfrentou o poder dos sumos sacerdotes e, indiretamente, o poder romano. Evidentemente, Jesus não fez só isso. Pregou coisas belíssimas e dificilíssimas: as bem-aventuranças, a misericórdia com as pessoas, a oração ao Pai. Dá gosto de ver Jesus, mas também é coisa séria, e, se alguém quer seguir o caminho de Jesus, vai lhe custar. Por isso, penso que, em conjunto, a Igreja também costuma se distanciar dele para que não incomode. Mas, graças a Deus, há pessoas e grupos aos quais Jesus lhes atrai.

E mais uma observação crítica sobre o processo do bispo assassinado em 24 de Março de 1980, em San Salvador:

Ninguém foi ainda julgado pelo assassinato de Dom Romero – e o Vaticano também não o canonizou...
Ler a entrevista toda aqui.

Sem comentários:

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...