quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Homilias que matam pessoas

Ando a ler um extraordinário livro. Já antes me tinha rido com ele, sem nunca lhe ter tocado, ao ler a crónica dominical de Bento Domingues (aqui). É sobre a Missa, escrito pelo frade dominicano Timothy Radcliffe. “Ir à Igreja Porquê? O drama da Eucaristia” (Paulinas).

A cultura do frade é colossal em termos literários. Em termos teológicos e históricos não é admirar.

O capítulo sobre a homilia começa assim:

“Segue-se, então, a homilia, o "Webster’s Dictionary" define pregar (preach) como «dar conselhos morais ou religiosos, sobretudo de uma forma enfadonha». E assim acontece com demasiada frequência. No livro “Barchester Towers”, Anthonny Trollope lamenta-se:

Talvez não haja, agora, maior infortúnio infligido à humanidade nos países civilizados e livres do que a necessidade de ouvir sermões. Ninguém, a não ser um clérigo pregando, tem nestes domínios o poder de obrigar uma audiência a estar sentada em silêncio e ser atormentada. Ninguém, excepto um clérigo pregador, se pode entreter em lugares comuns, truísmos e não truísmos e, no entanto, receber, como privilégio indiscutível, o mesmo comportamento respeitoso como se palavras de eloquência apaixonada ou lógica persuasiva jorrassem dos seus lábios… Ele é o frete do século, o velho de quem nós, Sindbads, não conseguimos livrar-nos, o pesadelo que perturba o nosso remanso dominical, o íncubo que sobrecarrega a nossa religião e torna rebarbativo o culto de Deus.

A pregação aborrecida foi sempre uma provação. S. Paulo discursou de modo tão monótono e durante tanto tempo que Eutico adormeceu, caiu da altura de três andares e morreu (Act 20,9). Ao ver o homem que luta com grande bocejos, quando prego em Blackfriars, consolo-me pelo facto de a minha pregação ainda não o ter morto. Quando S. Cesário de Arles pregava, as portas da igreja tinham de ser fechadas para que as pessoas deixassem de fugir ao tédio. John Donne, o teólogo anglicano do século XVII, disse que os puritanos pregavam durante tanto tempo que só paravam quando a congregação de novo acordava.

Sem comentários:

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