terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Gianni Vattimo e o relativismo que é preciso

Gianni Vattimo, que foi ou é (é difícil saber o que se é nestes tempos voláteis) comunista, homossexual, católico, valdense, deputado no parlamento italiano e eurodeputado, filósofo do "pensamento débil", profere uma série de afirmações sobre o relativismo que fazem pensar.

É bem sabido que o relativismo é um dos alvos de Bento XVI. Talvez por isso, já não se fala como se falava nos anos 80 e 90 de pluralismo teológico, por exemplo. O que é de lamentar.

Mesmo que pensemos que nem tudo vale, como Bento XVI, temos de ter prudência, como Vattimo, na altura de afirmar o que vale. É que, de facto, é com base na afirmação de um absoluto (vá lá a gente dizer a quem o afirma que não é absoluto…) que a violência impera.

Diz Vattimo:

O relativismo é somente uma outra face do fim da metafísica. Não existe mais um valor supremo em relação ao qual mensurar todos os outros valores. Nietzsche escreve que agora que Deus é morto e queremos que vivam muitos dos relativismos não significa ausência de valores, mas fim da pretensão do valor absoluto. O fim da metafísica é paralelo, ou idêntico, com o fim do imperialismo. Há quem pretenda uma autoridade absoluta que reivindica possuir o valor supremo: os nazistas diziam que “Deus é conosco”. E hoje uma superpotência, os Estados Unidos da América, crê representar os verdadeiros valores da humanidade, o império do bem contra o “mal”... Em si, o pluralismo dos valores, o relativismo, não é um mal. A violência só se desencadeia quando um dos tantos valores pretende ser o único e valer para todos. O cristianismo coloca primeiro a caridade, até mesmo antes da verdade. Ou melhor, há verdade vivida somente lá onde há caridade, aceitação do outro e, portanto, também relativismo.

E mais:

As implicações positivas deste niilismo resultam já das respostas dadas até agora: pode-se resumir tudo dizendo que se Deus está morto, se não se pode crer no absoluto da metafísica, estamos finalmente livres de praticar a caridade. A violência na história nasce sempre de uma absolutização: de si mesmo no caso mais elementar, mas também da própria “verdade” nos casos mais complexos: faço violência porque considero ter para tal o “direito”, porque tenho “razão”, porque, em tantos casos, quero impedir o outro de difundir o erro, a sua verdade... Ou até mesmo porque quero salvá-lo: o mote compelle intrare [obriga-o a entrar] (subentende-se “na Igreja”) é de Santo Agostinho (3) : por exemplo, deves obrigar os “selvagens” da floresta amazônica a tornarem-se cristãos, “para seu bem”. Em suma, o verdadeiro pecado original do qual ainda somos vítimas é a pretensão metafísica de ter razão.

E ainda:

A luta contra os absolutos pode ser a base sobre a qual nos entendemos com os outros. Isso significa que o que devemos ter em comum é o exercício da caridade.

A entrevista toda está aqui.

Sem comentários:

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