Fernando Correia de Oliveira (da Estação Cronográfica; já agora, veja-se aqui a referência ao IV centenário da morte do jesuíta "chinês" Matteo Ricci) deixou aqui a nota que se segue, a propósito do projecto de Alçada Baptista intitulado “Vida de Maus”, que não posso deixar de destacar e agradecer:
Sou amigo de um dos filhos de António Alçada Baptista e ele disse-me que o livro em causa não terá passado do projecto. "Quanto a possíveis apontamentos, tenho comigo seis caixotes enormes com os papéis que guardei dele", confidenciou-me. "Mas ainda não tive tempo de lá mergulhar, apesar da vontade ser muita".
Aproveito para incluir aqui a digitalização da página onde li a referência a tal projecto como obra “Em preparação”.
Com certeza que nos “seis caixotes enormes” que um dos filhos guardou haverá muita coisa interessante. A começar pela correspondência.
De qualquer forma, esta “Vida de Maus” afigura-se-me como algo muito estimulante. Remete para as clássicas vidas de santos. Uma “Vidas de Maus” poderia ir em dois ou três sentidos possíveis.
Ou contar a vida de pessoas que não foram declaradas santas mas que são exemplares. Pensemos em teólogos, em políticos, em artistas, ou em católicos que na época de Alçada Baptista se batiam contra a ditadura ou que se esforçavam por dialogar com as margens, ou que queriam estabelecer pontes entre o cristianismo e o marxismo…
Ou contar a vida de pessoas más de onde saiu coisa boa. Vilões. Como se sabe, “Deus escreve direito por linhas tortas”, como dizia Congar, um teólogo que Alçada Baptista publicava na revista “Concilium”. Tal como há bons que fazem coisas más, há maus que fazem coisas boas. O próprio Tomás de Aquino dizia que a piedade não era a primeira qualidade dos políticos, mas sim o zelo pela coisa pública. E são todos eles (todos nós) que fazem a Economia do Amor. O trigo e o joio andam muito misturados. Até na mesma pessoa.
Mas o livro também poderia ser sobre o corpo e o amor. Sempre uma anti-hagiografia. Pelo menos no sentido tradicional.
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