Um dos argumentos dos novos ateus com origem em áreas científicas consiste no sublinhar da incongruência da afirmação cristã da centralidade do ser humano no universo ou na negação de que universo tenha como finalidade a vida do ser humano.
O raciocínio é mais ou menos este: Segundo os cristãos, o mundo foi criado por Deus para o ser humano. Ora, havendo uma pluralidade de sistemas solares, galáxias e conjuntos de galáxias, a milhões de anos-luz de distância, com milhões de outros planetas e, sabe-se lá, com quantas formas de vida, e até de outros universos, que sentido fará dizer que tudo isto foi feito a pensar no ser humano? Ou dizer que a intenção de Deus era criar a humanidade? Nenhum. Logo, Deus não existe. Resta o acaso.
Este raciocínio (ao qual alude Anselmo Borges no terceiro parágrafo do seu texto de hoje, aqui), para além de partir de uma afirmação duvidosa (pois para os cristãos a centralidade da totalidade, incluindo o universo, está em Deus; na Criação, o ser humano tem alguém acima dele; e nada exclui que haja outros seres inteligentes pelo universo fora - se forem inteligentes, Deus também é para eles) e de chegar a uma conclusão não implicada nas premissas (em vez de afirmar a não-existência de Deus poder-se-ia afirmar antes o não conhecimento dos desígnios de Deus, o que, admita-se, pode não satisfazer lá muito), tem um preconceito contra o ser humano. Desconsidera as suas capacidades para conhecer o mundo. Talvez o universo não seja assim tão grande com o passar dos anos. Como também o mundo se tornou pequeno.
Há 500 anos, se alguém dissesse que um dia seria possível levar pelo ar, a mil km/h, meio milhar de pessoas, dir-lhe-iam que estava a delirar (e poderiam mandá-lo para a fogueira se tal cheirasse a bruxaria ou a diabolices). E ninguém teve esse sonho. Todos os projectos de voo (de Ícaro a Leonardo da Vinci) eram individuais. Hoje, as distâncias intergalácticas parecem impossível de conquistar. Mas não se sabe como será amanhã.
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