Lendo uns blogues, uns jornais, uns sítios e uns livros, podemos fazer, por vezes, as mais incríveis relações. Não é que a que eu vou fazer seja especial, mas tem a sua graça de coincidência. Vejamos. Hoje de manhã leio a crónica de Anselmo Borges no jornal (leio-a primeiro no papel e só depois a copio do DN digital). Fica-me na mente a ideia de desenvolver uma resposta ao argumento da pequenez humana na imensidão do universo (ou pluriverso, como alguns defendem) enquanto sinal do alheamento de Deus para com a questão humana e, presume-se, da própria inexistência de Deus. Ao mesmo tempo, penso hoje várias vezes em John Henry Newman, um teólogo das minhas preferências há muito tempo. Como se sabe, vai ser beatificado em Birmingham, amanhã, numa celebração presidida por Bento XVI. Ora hoje, em Birmingham, está um velho conhecido deste blogue, Guy Consolmagno, cujo livro “A Mecânica de Deus. Como os Cientistas e os Engenheiros entendem a Religião” esteve várias semanas na montra deste blogue (ver aqui e aqui, por exemplo).
Consolmagno é jesuíta e astrónomo. Foi à terra onde viveu Newman dar uma conferência no British Science Festival, evento que não está relacionado com a visita papal, como é óbvio. Por estes dias afirmou que estaria disposto a baptizar um extraterrestre, “se este assim o desejasse” (li aqui).
Ele explica melhor: “Desde a Idade Média, a definição daquilo que é dotado de uma alma é aquilo que possui inteligência, livre arbítrio, liberdade de amar ou não, liberdade de tomar uma decisão”. Nesse sentido, “toda a entidade – e não importa quantos tentáculos tenha – tem uma alma”. Sendo inteligente, qualquer criatura pode ser filha de Deus pela admissão no baptismo (desde que não seja alérgica à água, como no filme quanto a mim sofrível de Shyamalan, mas de mensagem baptismal, "Sinais": uns extraterrestres que se assemelham ao diabo das apresentações medievais e que só são destruídos pela água, enquanto o pastor passa por uma crise de fé... Está assim explicada a ilustração deste texto, a qual nada tem a ver com Consolmagno).
O que é que isto tem a ver com a questão do grão cósmico que é o ser humano? Muito. Primeiro, podendo não estar só, isso não causa problema teológico de maior (questão há muito debatida). Depois, afirmar a solidão humana no universo pode, afinal, ser apenas um sinal das limitações de quem faz a afirmação. Por outras palavras: é demasiado que o não sabemos sobre o ser humano, o universo e Deus para fazer afirmações peremptórias.
Há, contudo, a questão da missão única da humanidade no universo, já que foi a parte de vida inteligente (supondo que podem existir outras) em que encarnou Jesus Cristo, o Filho de Deus. Mas essa é outra história.
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