Até onde e quando vai durar a crise da pedofilia? É, sem qualquer margem para dúvidas, o maior e pior escândalo dos tempos modernos na Igreja Católica. Os responsáveis eclesiais já deixaram de comparar os números dos casos provocados por membros do clero com os da população em geral. Era uma péssima estratégia. Não há comparação possível porque a população em geral não assume o mesmo sentido da sexualidade que assume um padre.
Mas não sei se estão a tirar as conclusões que uma situação como esta sugere. Temo que não. E o pior de uma crise é quando não é aproveitada para repensar, renovar, suprimir, inovar, criar. Pensa-se sempre no reforço da disciplina. Não se pensa na doutrina e teologia que está na sua base. Seguindo um preceito evangélico, os odres continuam velhos. Estragam o vinho. Mas só se pensa em remendos para os odres. Em remendos novos para o vestido velho que não os aguenta.
Há a questão das vítimas e da sua protecção e, da maneira que for possível, a tentativa de recompensar pelos danos feitos. Todos de acordo. Mas ninguém questiona que os padres pedófilos podem ser vítimas de um sistema educativo, ideológico e teológico que leva à esquizofrenia moral. Comportamentos públicos virtuosos e taras privadas.
E se, na teologia católica, a Eucaristia presidida por um padre indigno é tão válida como aquela que é presidia por um padre santo (é o que se depreende da teologia do sacerdócio; "o padre é sempre padre, mesmo no inferno", diz um axioma católico), residindo nisso a origem da deferência e respeito com que o clero é tratado pelo povo crente, como separar o trigo do joio? É que aqui é mesmo preciso separá-lo. Mas a prática pastoral diz que o padre indigno (e não penso só em pedofilia, porque não conheço nenhum pedófilo, mas sei de alguns que não são virtuosos noutros campos e situações) pode continuar o seu trabalho santificador desde que não dê suficiente escândalo. Pode ser muito católico. Mas não é nada evangélico. Esquizofrenia teológica.
1 comentário:
completamente de acordo!
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